Vamos falar sobre transição de carreira
Aos 16 anos escolhi prestar vestibular de uma faculdade pública para Engenharia de Alimentos. Mesmo fazendo o ensino médio técnico em programação, conhecendo meus talentos e gostando de outras coisas, acreditava que passar pelas temidas matérias de cálculo traria um futuro recompensador e que o título de engenheira significava a eterna garantia de uma vaga de emprego. Não fui obrigada a fazer essa escolha, porém, gerações mais antigas e até alguns professores endeusavam as engenharias, medicina e direito, transformando essa escolha em uma pressão social, taxando outros cursos como pouco rentáveis e vendendo satisfação profissional em forma de receita de bolo. Longe de apontar o dedo e culpar alguém – eles fizeram de tudo para nos apresentar os melhores caminhos possíveis levando em consideração o que deu muito certo para a geração deles. É um ciclo. Nós vamos orientar a próxima do nosso jeito e por aí vai.
A graduação foi responsável por experiências incríveis onde me desenvolvi como estudante e pessoa. Fui membro de empresa júnior, bateria universitária, apoiava a minha atlética, ia em festas, participava de projeto sociais e interagia com pessoas de outros cursos. Em contrapartida eu estava extremamente longe de ser a primeira da turma, não tinha afinidade nenhuma com iniciação científica, tinha dificuldade em diversas matérias, repeti química orgânica e pasme, biologia, e jurava que por conta do meu desempenho acadêmico não conseguiria estágio obrigatório numa boa empresa.
Mesmo sabendo desde os primeiros meses da graduação, que eu não me identificava com a escolha que havia feito, insisti em chegar no ano que as disciplinas saíam dos cálculos e ficavam mais focadas na tecnologia e ciência dos alimentos. Aí começamos a pagar os boletos da formatura. Depois chegou a época de escrever o trabalho de conclusão de curso. Quando me dei por conta já estava procurando estágio e poucos meses depois, já estava formada. Por mais que eu cogitasse a possibilidade de trancar o curso e procurar outra coisa pra fazer, eu não fazia ideia que outra coisa era essa. Mesmo com matérias que eu não me saía muito bem e com professores que mais atrapalhavam do que ajudavam, fui levando um ano de cada vez e consegui meu diploma de curso superior.
Nos dois momentos que trabalhei na indústria alimentícia, o primeiro na garantia da qualidade e o segundo no processo produtivo, vi o perfil de pessoa e de profissional que eu não queria ser, mas que, por conta da pressão do trabalho e do pique exaustivo que a indústria demandava, eu estava me tornando dia após dia. Por mais que muitos neguem, quem trabalha nesse setor precisa ter um perfil extremamente alinhado com o que ele exige dos colaboradores – e eu não tinha. Sem expectativas e com minha falta de feeling com a profissão, que existia desde a faculdade, encontrava dificuldades em cima de dificuldades no meu trabalho e me via cada vez mais desmotivada, sem muita clareza de quais decisões eu deveria tomar para sair daquele buraco.
Quem eu sou hoje e os caminhos que tomei pra chegar aqui são reflexo do passado, então, não me arrependo da escolha que eu fiz. Com 16 anos não temos 10% da maturidade que precisaríamos para tomar decisões que são consideradas definitivas em nossas vidas. Admitir que eu não estava satisfeita com o rumo que minha vida profissional estava tomando e que eu precisava dar um jeito nisso, foi muito difícil, assim como, escolher por uma transição de carreira e desconstruir alguns conceitos, como o de sucesso profissional.
Nas próximas semanas você vai encontrar uma série de textos aqui no blog sobre transição de carreira. O que eu fiz foi bom pra mim e não é uma lei que funciona pra todo mundo, mas sei que muitas pessoas se identificam com o assunto e essa é uma forma que encontrei para demonstrar apoio, e que sempre encontramos algo que faz sentido com o que queremos.
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2 comentários
Bruna Martins da Silva
Oi, Helena! Tudo bem?
Estou aqui não só por ser tua amiga e estar (diretamente) influenciada a consumir o teu conteúdo, mas sim, por ter certeza de que a tua escrita está interligada com o que se passa na cabeça de muitas pessoas . Houve aqui, uma identificação imediata (e eu não achei que isso iria acontecer).
Confesso que comecei a ler de forma despretenciosa e quando vi, já haviam acabado os textos. Não consigo resumir o que senti, poderia comentar algo em cada um deles, porque todos me “tocaram”, no sentido de haver uma identificação, em algum momento.
Só queria te dizer que as vezes estamos passando por coisas difíceis/delicadas na nossa vida pessoal, na nossa carreira, na nossa roda de amigos e nos nossos relacionamentos em geral e que com isso não nos damos conta de parar e desacelerar. tudo isso só pra dizer que te ler, me fez desacelerar.
Por favor: do not stop! <3
Helena Meyer
Obrigada pelas palavras, Bruna! Pode ter certeza que são comentários assim que me dão mais força para continuar!