A felicidade a longo prazo e a infelicidade momentânea
Uma das coisas que eu mais escuto quando falo sobre ter trocado minha formação superior por algo totalmente novo é que tive sorte. Lógico que eu discordo muito, porque se usarmos o bom senso, sabemos que não aparece uma fada mágica do nada e joga um pó de sorte em cima das pessoas e pronto, tá tudo resolvido.
Eu considero sorte como consequências das escolhas que nós fazemos. Nem sempre o resultado é aquele que esperamos e nem sempre temos certeza do tempo que esses processos vão levar. Eu realmente acreditava que tudo ia se desenrolar mais rápido, mas entre eu sair do meu emprego na indústria e conseguir minha primeira oportunidade como desenvolvedora, se passaram 11 meses.
E muita coisa aconteceu nesses 11 meses. Escreverei mais sobre isso em breve.
Existe uma coisa que você precisa entender sobre a minha transição de carreira: o fator crucial dessa virada de chave foi a minha felicidade a longo prazo, e não uma infelicidade momentânea.
Algumas pessoas muito próximas acreditam (até hoje) que eu decidi sair da indústria alimentícia simplesmente porque estava afim, porque era uma menina infeliz com o meu salário baixo e que acordei um belo dia e decidi meter o louco.
Ou todas as opções juntas.
A infelicidade momentânea se dá pelos mais diversos fatores e se você está no mercado de trabalho ha algum tempo, ja deve ter tido a oportunidade de experimentá-la.
O ambiente tóxico, uma gestão mal feita, os colaboradores desmotivados, o foco 200% em cima de metas muitas vezes inatingíveis – e sem sentido nenhum, uma remuneração baixa, uma rotina de trabalho que passe de todos os limites possíveis do que um ser humano normal deveria fazer – segundo as leis, a comida ruim no refeitório, as tarefas sem planejamento..
E o grande problema da infelicidade momentânea é que além dela estar conectada a coisas que nós não gostamos, ela anda de mãos dadas com os problemas. E todo lugar tem problema. Não os mesmos, e nem na mesma intensidade, lógico, mas eles existem. Nem que sejam bem pequenininhos, e uma hora ou outra, aparecem. Ou seja, se basear no nosso descontentamento momentâneo – o famoso ranço – pra tomar uma decisão importante em qualquer âmbito da nossa vida, é uma ideia estúpida.
A felicidade a longo prazo esta altamente ligada aos nossos valores e às nossas expectativas.
Antes de continuar, me sinto na obrigação de lembrar que somos muito diferentes uns dos outros. Existem pessoas que nasceram para determinadas atividades. Cada um sabe (ou deveria pelo menos pensar de vez em quando sobre) o que gosta e o que quer pra sua vida nos próximos anos. Quais suas expectativas com relação a sua profissão e ao seu lugar no mundo.
Largar o diploma de engenharia funcionou muito bem pra mim, porque eu não me identificava com aquilo ali, mas outras pessoas podem super se identificar e gostar do que fazem. Escrevo aqui no blog sobre a minha realidade. Os textos não são um manual do que o outro deveria fazer muito menos uma afronta aos que se identificam com coisas diferentes do que eu. Eles são uma forma de mostrar para pessoas que vivem os mesmos ou dilemas parecidos que existem outros passando por isso o tempo todo e que sim, mudar de ideia é possível – cada um dentro da sua realidade e suas expectativas.
Durante muito tempo eu ligava felicidade a longo prazo ao ter uma casa e um carro no meu nome. Só que considerando a minha personalidade, os meus valores e as minhas vontades, isso acabou mudando. Claro que eu ainda quero ter um lar para pintar as paredes da cor que eu quiser sem o dono do imóvel ficar puto, mas minha visão era extremamente limitada a bens materiais de alto valor e ao futuro. Eu não pensava em mim e muito menos no agora.
Escolher entrar de cabeça numa profissão nova foi parte de um longo processo. Por diversas vezes precisei avaliar se não estava focando numa infelicidade momentânea. Precisei conversar com muitas pessoas que já estavam na indústria a mais tempo e tive que unir tudo isso ao que eu queria pra minha vida.
Hoje tenho total certeza que tomei a decisão certa com relação a minha carreira.
Trabalhar com algo que não gostamos, onde não nos sentimos bem e com o que não vemos sentido nenhum, é muito difícil, e sair de algo assim, é libertador.
Nos próximos textos sobre carreira quero contar sobre como foi meu processo durante aqueles 11 meses que passei estudando e buscando por oportunidades na tecnologia. O que deu certo e o que não deu (muita coisa não deu certo) e como me surpreendi comigo mesma nesse período.
Quero falar sobre qualidade de vida, como isso anda de mãos dadas com nossas carreiras e como ela impacta a nossa saúde.
Quero contar da forma mais transparente, como mudar de profissão pode ser estressante e desafiador. Principalmente quando você fala pras pessoas que decidiu esquecer que é formada.
Mas acima disso tudo. Quero mostrar que, se não estamos felizes, não precisamos nos prender a um diploma só porque nos dedicamos muito para consegui-lo. As oportunidades estão nos esperando aqui fora, o tempo todo.