Vida

Nosso relacionamento com as redes sociais

Estamos em Julho de 2021 e conheço pouquíssimas pessoas que não tem perfil em pelo menos uma rede social. Seu uso, levou para outro nível a maneira que nos relacionamos uns com os outros.

Através delas é possível saber o que está acontecendo praticamente em tempo real na vida dos nossos amigos, familiares e conhecidos, manter contato com nossos ex colegas e professores e acompanhar à distância de uma tela os nossos maiores ídolos.

Eu amo usar as redes sociais – de verdade. Adoro publicar fotos dos lugares que conheço e interagir com pessoas queridas, além disso, é através delas que divulgo / compartilho minhas postagens aqui do blog.

Sinceramente, acredito que o universo digital tomou uma proporção tão grande, que talvez seja impossível e até inviável fazer de conta que as redes não existem.

Cada um de nós tem total liberdade para definir qual será nosso nível de exposição, o que vamos consumir nas redes e quanto tempo dos nossos dias vamos passar olhando para a tela do celular. Nós somos os responsáveis por decidir o que é, e o que não é saudável fazer quando falamos da nossa própria vida.

Ultimamente, ando refletindo sobre como fica a nossa saúde mental após passar uma boa parte dos nossos dias no ‘scroll’ quase que em modo automático no celular, consumindo os mais diversos conteúdos publicados online.

Você não tem a impressão de que todo mundo é extremamente realizado e muito bonito no Instagram?

Eu tenho.

Parece que todos que tem um perfil na internet – inclusive eu – estão chafurdando felicidade e vivendo uma maré infinita de coisas boas.

As viagens são inesquecíveis e existe uma harmonia incrível entre o “aerolook” as malas e o cenário escolhido para a foto. A taça de vinho está estrategicamente posicionada com a lareira ao fundo e não podemos esquecer das fotos lindíssimas dos pratos que pedimos nos restaurantes.

Os filtros resolvem praticamente todas as inseguranças que temos com o nosso rosto e corpo – afinamos o nariz, aumentamos os nossos lábios e fazemos a celulite desaparecer em segundos. Escolhemos a nossa roupa pensando nas fotos que vamos tirar e passamos horas na beira do mar criando um cenário que proporcionará um clique “instagramável”.

Eu amo as redes sociais, mas sinceramente, o que ta acontecendo com a gente?

Parece que estamos dispostos – muito provavelmente de maneira involuntária – a perder pequenos e preciosos detalhes das nossas vidas para ter a melhor foto, com o melhor ângulo, que vai ornar com o resto do nosso feed e que com certeza rapidamente colecionará incontáveis curtidas e comentários.

Isso ainda pode ir muito além.

Comparamos, não somente ao que diz respeito aos nossos corpos, nossas roupas e nossas posses, como romantizamos a produtividade e sentimos culpa quando vemos postagens dos nossos colegas, estudando ou trabalhando aos finais de semana e feriados, enquanto estamos deitados no sofá, maratonando nossa série predileta pela oitava vez.

Acreditamos que precisamos do carvão ativado para clarear nossos dentes, que tomar aquele chá – caríssimo – resolverá a retenção de líquido que nosso corpo sofre e que ter no guarda-roupa uma peça da coleção nova do fulaninho de tal vai nos fazer muito mais feliz.

Essas compras, de coisas que nem sabíamos que existiam, que fazemos por conta do encanto das publicidades pagas espalhadas nas redes não passam de um gigantesco atestado de aprovação social.

Provavelmente você deteste ler isso – e pode ter certeza que eu detesto escrever e, principalmente, admitir, porque faço parte dessa parcela – mas, no fundo, queremos experimentar pequenas doses de uma felicidade momentânea postável, que se torna vazia e sem muito sentido após pouco tempo.

Pesado né?!

Desde muito nova costumo ser extremamente crítica sobre o que fazer com o meu dinheiro, mas, mesmo não me enfiando em dívidas de cartões de crédito, vez ou outra fiz compras em função das propagandas de alguma blogueira.

Nós vivemos em um mundo onde a aparência, não somente a física, vale muito – e as redes sociais, colaboram com isso todo santo dia.

Manipulamos paisagens que são naturalmente belíssimas – e sinceramente eu nem sei porque fazemos isso.

Esse assunto acabou como protagonista de várias das minhas sessões de terapia.

Em uma delas, me recordo de ter relatado a minha terapeuta que mesmo me sentindo bonita e feliz com meu corpo, me sentia mal, porque me comparava com outras meninas que tiravam fotos nas mesmas praias que eu.

Enquanto sabia que não era certo me comparar com outras pessoas, ficava triste por não ter os mesmos acessórios, roupas de banho ou por não me maquiar pra tomar sol. Sentia que, mesmo em lugares paradisíacos, minhas fotos não eram tão bonitas por não estarem tão bem editadas ou pelo equilíbrio de cores não ser tão legal.

Eu enxergava no feed alheio todos os elementos milimetricamente bem posicionados. Era tudo tão bonito e tão harmônico que meus olhos se confundiam ao separar o real do manipulado.

“Plandid pose” ou “Plandid photo” é uma expressão em inglês para uma foto que foi extremamente planejada e construída, mas capturada de forma que tudo pareça extremamente natural, que a pessoa foi pega de surpresa e saiu maravilhosamente bem.

Ultimamente a maneira e frequência com que uso as redes é um pouco diferente do que costumava ser há algum tempo.

Mesmo totalmente ciente de que elas são apenas a fresta de uma janela das nossas vidas quis fazer um propósito comigo mesma sobre o conteúdo que consumiria e o que eu iria expor naquele espaço dali pra frente.

Quero colecionar lembranças reais.

Daqui um tempo, quero olhar o conteúdo que escolhi compartilhar no meu feed e ter certeza que ele é verdadeiro.

Isso não quer dizer que vou abolir eternamente todos os filtros e edições, mas quer dizer, que eu não quero me sentir obrigada a tirar 56 fotos iguais e passar horas manipulando imagens toda vez que quiser compartilhar alguma coisa – só pra caberem dentro de um padrão, assim como, não quero mudar as cores e formas de lembranças lindas em prol da quantidade de likes.

Não sei como funciona o seu relacionamento com as redes, o tempo que você dedica a elas e nem o seu parâmetro de conteúdo saudável, mas eu sinto que estamos entrando em um buraco em busca pela aceitação alheia, difícil de sair.

E você, o que acha sobre esse assunto? Me conta aqui nos comentários.. Adoro saber a opinião de vocês e debater outros pontos de vista 🙂

Gosta dos meus textos? Não deixa de ler os outros conteúdos escritos com muito carinho aqui no blog!

4 comentários

  • Camila

    Adorei! É exatamente esse sentimento que tive MUITAS vezes!
    A busca eterna pelo melhor ângulo… Hoje em dia, quando estou em uma viagem ou um lugar muito bonito, eu tiro várias fotos (de qualquer jeito) só para guardar no celular mesmo e relembrar os momentos!
    E quando tenho tempo sobrando, até peço pra alguém tirar algumas fotos minhas (faço correndo, se alguma por acaso acabar ficando boa, quem sabe eu posto! Haha) mas não mais com a obrigação de postar. É libertador!

  • Ana

    Gostei muito do texto. Parabéns 🙂
    Acredito que estamos entrando em uma bola de neve com as redes sociais. E muitas pessoas nem vão conseguir enxergar que estão na realidade dependentes dessa situação, por conta dos likes e comentários que proporcionam um sentimento de “aprovação”.
    Eu sigo na luta para me controlar com as redes, nem tanto na exposição, mas sim no tempo que gasto diariamente nelas. Continua sendo um desafio diário não dedicar horas do dia vendo memes e fotos no Instagram, porém tento equilibrar esse tempo, colocando mais conteúdos que agreguem valor no feed.

    • Helena Meyer

      Oi Ana! Obrigada pelo seu comentário!!

      Compartilho do seu sentimento. Vivemos em uma bolha de aprovação por conta dos likes e do engajamento com as postagens.
      Também tenho tentado manter um equilíbrio com relação ao que vejo no feed – confesso que não é fácil não cair na tentação do pegar o celular no automático ou ver conteúdos que não agregam taaaanto assim no meu dia.

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