Relacionamentos

Valores e nossos relacionamentos

Sempre fui muito a favor de viver tudo que queremos. De nos permitirmos novas experiências, conhecer pessoas, ir para outros lugares e de estar receptivo ao que a vida nos reservou para aquele momento.

Nas últimas semanas cheguei a conclusão que mesmo que tenhamos o livre arbítrio, o que a vida nos apresenta em determinados momentos é exatamente aquilo que precisamos viver.

Quando eu era mais nova e diga-se de passagem um pouco menos inteligente, já tinha traços significativos da minha personalidade desenhados e por consequência uma boa noção dos meus valores e princípios.

Posso dizer que muitos desses valores são heranças dos ensinamentos dos meus pais e que, nesses pontos, tenho orgulho de dividir da mesma opinião da deles e dar continuidade a isso. Já os demais também tive algumas influências deles ao vê-los fazendo coisas que não me agradavam muito e que gostaria de agir de uma forma diferente. De uma forma que fizesse sentido para minha vida.

Hoje vivo extremamente atenta e fiel ao que considero como valor e todas as minhas decisões, por mais simples que sejam, andam de mãos dadas com os meus valores e princípios.

Mas nem sempre foi assim.

Sou uma menina com opinião própria. Sempre acreditei nos meus valores e, no fundo sabia que segui-los podia ser uma boa ideia, mas durante um bom período da minha vida acabei errando comigo mesma e negligenciando o que aqueles aos quais eu me relacionava enxergavam como valor.

Sabe quando você conhece alguém e ao começar a conversar com essa pessoa percebe que existem pontos entre vocês que são desalinhados? Não que necessariamente um esteja certo e o outro errado, até porque o conceito de certo e errado são muito subjetivos, mas que tem algumas diferenças significativas ali no meio?

Sejam os hobbies que cada um curte praticar em seu tempo livre, como enxergam o dinheiro e como escolhem o guardar ou o gastar, os hábitos que cultivam diariamente e que não abrem mão, o que os amigos e a família significam, como funcionam os seus respectivos relacionamentos com essas pessoas, e por fim – só porque não quero me esticar muito nesses exemplos – mas eu poderia – as expectativas de futuro e o que cada um acredita e busca para a sua vida.

Aqui eu não falo de diferenças do tipo – “gosto de comédia romântica, mas ele prefere terror”. Falo daquelas particularidades que estão praticamente presas a nossa alma. Aquelas coisas que, no fundo, sabemos que queremos e são muito importantes para nós.

E é óbvio que existem contrastes possíveis de se lidar, afinal de contas somos únicos. Só que é impossível equilibrar apenas com duas mãos mil pratos onde cada um deles carrega diferenças relacionadas a coisas que dificilmente vão mudar.

Desde que somos pequenos nos falam sobre amor. Nos contam que um dia vamos conhecer alguém, que vamos nos apaixonar e construir uma família. Nos falam de relacionamentos e sobre viver algo duradouro e significativo.

Sinceramente penso que escutamos de tudo sobre esse assunto, menos sobre a importância de termos os nossos valores alinhados com os da outra pessoa.

Porque os nossos valores são (e se não são, deveriam ser) o que regem a nossa vida.

Essa é a hora que você para, ri e fala pra si mesmo que meu texto é péssimo – seguido de um “mas isso que ela concluiu é óbvio, porque se falando sobre relacionamentos mais sérios, teoricamente, estamos escolhendo a pessoa que vai viver pra sempre ao nosso lado”… Sinto ter que parar esse seu pensamento, te trazer pro mundo real e te falar que apesar de ser óbvio – não é tão óbvio assim – mas que sim, tudo bem você continuar achando meu texto ruim, é um direito seu.

Talvez você nunca tenha pensado sobre isso, mas nós seres humanos, meros mortais feat alecrins-do-campo – temos uma dificuldade enorme de comunicação uns com os outros.

Quando estamos conhecendo alguém falamos sobre como odiamos a nova tendência de roupas tie-dye que todo mundo usa agora ou sobre o gênero musical o qual não suportamos escutar e deixamos de lado coisas que são relevantes e estão intimamente ligadas com o nosso futuro.

Sentimos receio de sermos honestos e colocar o que realmente queremos da vida em cima da mesa.

E sobre isso tenho duas teorias:

  • A primeira é que os relacionamentos são tão banalizados hoje em dia que não temos a mínima esperança que aquela pessoa permaneça na nossa vida por muito tempo, então, pra que se desgastar contando que você quer sim, ter filhos ou que daqui a alguns meses vai fazer um mochilão pelo mundo, afinal, são coisas tão pessoais e vocês decidiram que só se encontrarão aos finais de semana quando ambos estiverem com vontade – né?!
  • E a segunda, que pra mim, é a mais coerente: evitamos determinados assuntos, trazer um ponto diferente ou até mesmo pequenas discussões quando estamos conhecendo alguém – o que pode se estender por meses, talvez anos.. Porque, no fundo, em algum lugar na nossa cabeça, acreditamos que serão coisas adaptáveis ao longo do tempo, que podemos falar sobre isso depois e, em algumas vezes, até convencer o outro que o nosso posicionamento é melhor.

Só que é a crença na segunda teoria que nos provoca a manter o foco em – fazer aquilo dar certo a todo custo – mesmo que o universo nos traga inúmeros sinais de que existe algo estranho ali. Porque convenhamos: é uma grande merda ser obrigado a admitir que aquela pessoa interessante que estamos conhecendo não quer as mesmas coisas da vida que nós e que num futuro (talvez nem tão distante) isso pode se transformar em um problema.

E eu digo mais: a crença na segunda teoria, nos faz esquecer que aqueles eventuais contatinhos do final de semana que vemos uma vez ou outra e que nos relacionamos só por sexo, os quais evitamos ter conversas profundas e falar sobre a nossa vida, também tem uma tendência a se transformarem em um problema a longo prazo se as coisas não estiverem muito claras para ambos os lados.

O grande problema em se fazer de louco, colocar desde o começo uma venda nos nossos olhos com relação a essas divergências, permitir que essa pessoa faça parte da nossa vida, dando assim continuidade a esse relacionamento e aplicar esforços para que aquilo funcione sem antes colocar os pingos nos “i’s” – sem admitir o que queremos – é que, alerta de spoiler: em algum momento isso vai parar de funcionar.

Pra ser bem sincera com você: talvez isso nunca funcione genuinamente.

Tenho uma lista das vezes nos últimos anos que tive a possibilidade de tirar essa venda dos meus olhos e ter sido honesta comigo mesma, mas não fui. Inclusive as vezes acho que o universo ficou esgotado dos incontáveis momentos em que pedi sinais e mesmo com eles bem na minha cara, escolhia os ignorar.

E o mais engraçado no meio disso tudo, é que podemos escolher. São os nossos “sims e nãos” que determinam o rumo que a nossa história vai ter. E pasme, escolhemos 24 horas por dia.

Escolhi renunciar a quem eu era e fazer de tudo que estivesse e não estivesse ao meu alcance, em prol do “dar certo”, mas isso me diminuiu e me sufocou pouco a pouco.

Dos assuntos mais sutis aos mais complexos, caminhei contra os meus valores.

Agora jogando limpo – existiam coisas desde o primeiro dia que eu sabia que estavam desalinhadas, mas que escolhi negar. Escolhi “falar sobre isso depois”. Escolhi a cada um dos inúmeros desentendimentos (90% por diferenças de valores) fingir que não era hora de dar um basta.

Muitas vezes na vida construímos relacionamentos em cima de enganos e ilusões causadas por nós mesmos. Nosso pior erro nisso é esquecer que tudo aquilo que está em cima de uma base fraca vai desmoronar. Não adianta insistir. Tudo que for erguido nesse tipo de ambiente, não é pra ser nosso.

Levando isso em conta, nunca será errado sermos honestos com o que queremos. Nós não deveríamos e não precisamos ter medo disso.

Basear nossas escolhas e nossos relacionamentos em cima dos nossos princípios e valores, fará com que nossas construções sejam sólidas e genuínas. Desse jeito, não sobra espaço para arrependimentos no nosso caminho.

Gosta de ler meus textos? Deixa um comentário aqui em baixo 🙂 Adoro conhecer um pouquinho mais das pessoas acompanham e se identificam com as minhas reflexões.

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