Vida

A importância de refletir sobre nossas escolhas

Algum tempo atrás uma pesquisa feita pelo Bureau of Labor Statistics ficou extremamente famosa nas redes sociais. Bem, na verdade, a fama apareceu por conta de alguns dos seus resultados – lidos, interpretados e transformados em gráficos.

Essa pesquisa levantou dados sobre como os americanos estavam “gastando” o seu tempo.

Pontos como quanto tempo passamos trabalhando e quantos minutos por dia gastamos com o nosso deslocamento ao mesmo. Tempo destinado a cuidados com os filhos, lazer, tempo que passamos sozinhos ou acompanhados e diversas outras atividades as quais designamos uma parte considerável da nossa agenda – e não percebemos.

Se você já leu outros textos que escrevi – sabe que gosto (muito) de fazer reflexões sobre o nosso tempo. Pra mim, as despesas mais custosas que temos durante a nossa vida são aquelas as quais depositamos tempo e saúde, recursos que após perdidos, não voltam nunca mais.

Os resultados gŕaficos dessa pesquisa nos causam um certo impacto, porque eles mostram – de forma visual e extremamente clara – que o tempo passa mais rápido do que podemos perceber e alguns momentos que podem parecer eternos, na realidade são frágeis fragmentos da nossa vida.

Estamos fazendo escolhas o tempo todo – elas geram consequências imediatas ou de longo prazo – que podem ser boas ou podem ser ruins.

Hoje quis fazer uma análise desses gráficos com uma perspectiva um pouco mais voltada às escolhas.

Quero te mostrar, na prática, que as escolhas são grandes protagonistas do nosso caminho. Que áreas chave da nossa vida estão extremamente conectadas a elas e como as decisões que são tomadas hoje – por menores que sejam – podem e vão impactar aquilo e quem seremos lá na frente.

Nossas amizades e conexões:

Uma das coisas que mais gosto de fazer com os meus amigos é relembrar algo que vivemos juntos no passado – porque é inegável que partilhamos momentos muito divertidos.

Sou muito fã de cultivar amizades de longa data – desde que elas continuem fazendo sentido – acho importante e extremamente necessário entendermos e aceitarmos que conforme o tempo vai passando a nossa vida muda muito e que inevitavelmente muitos desses amigos acabam ficando para trás.

E aqui eu não falo dos colegas – esse seria um assunto pra outro texto. Falo dos amigos de verdade. Aquelas pessoas que fecharam com a gente por muito tempo, que estiveram conosco em horas boas e horas ruins e participaram de grandes e importantes conquistas nossas – mas que por algum motivo não são mais tão presentes assim. Por alguma razão aquela conexão incrível – não existe mais.

Nós não temos a obrigação (apesar de pensarmos que temos) de manter conexões que não existem mais.

Isso não quer dizer que hoje odiamos essas pessoas – até porque elas não nos fizeram nada para isso. Quer dizer que o carinho e consideração por aquilo que vivemos – ainda existem, mas que seguimos caminhos diferentes e que manter aquele laço super fraterno e um contato frequente – não faz mais sentido.

A pesquisa mostra que – conforme ficamos mais velhos passamos cada vez menos tempo com os nossos amigos.

Então, seria mil vezes mais inteligente e coerente – parar com a tentativa de reviver acontecimentos do nosso passado e investir nossas forças e principalmente o nosso tempo – naquelas amizades e conexões as quais realmente dão “match” com quem somos hoje.

É fazendo de conta que o tempo não passou que acabamos em rolês aleatórios onde o assunto simplesmente não flui como deveria e que contamos detalhes das nossas vidas a pessoas que não conhecemos mais.

Nossa família e nossos filhos:

Não sei quais são os seus planos pro futuro, se você gostaria de ter filhos ou não. Mas uma coisa é certa – e até óbvia: crianças são muito dependentes dos seus pais nos seus primeiros anos de vida – foi assim conosco e essa história tende a se repetir, quando e se estivermos na posição de pais.

Aos poucos os pequenos vão ganhando mais independência – até porque eles deixam de ser pequenos.

Das recordações que tenho da minha infância, adolescência e do começo da minha vida adulta – nenhuma delas é dos meus pais me proibindo de fazer alguma coisa. Lembro que o discurso deles sempre foi que “estavam me criando para o mundo” – e que eu deveria seguir o meu caminho, conforme eu quisesse. 

Sempre admirei muito esse posicionamento por parte deles, visto que não deve ser fácil para os pais verem os filhos crescerem e “destruírem” a própria vida.

Além de conviver com as obrigações do dia a dia, comecei a querer ter a minha liberdade e cuidar das minhas coisas – assim como meus filhos farão um dia.

No que diz respeito ao tempo que passamos com a nossa família e com os nossos filhos ao longo da vida, os gráficos apresentam um ciclo extremamente natural, que apesar de óbvio, é um grande motivo de sofrimento para muitas pessoas.

Dependemos muito da nossa família nos primeiros anos de vida, mas conforme o tempo passa, esse cenário muda. Mais cedo ou mais tarde – e do nosso jeito, chega aquele momento onde queremos ter o nosso canto, a nossa privacidade e talvez até o nosso próprio núcleo familiar. Aos poucos, vamos nos desprendendo desse laço – de forma que não ficamos mais juntos porque precisamos, mas sim, porque queremos.

A vida força com que esses encontros sejam cada vez menos frequentes. Seja por conta da rotina agitada, por trabalhar em outra cidade ou simplesmente porque precisamos escolher por outras atividades que tomam o nosso tempo.

Uma das coisas que acho mais bonitas entre os relacionamentos (que são saudáveis) de pais e filhos é que em algum momento não estaremos mais juntos o tempo todo, mas após os longos anos e experiências – amor e compreensão, tendem a serem mais protagonistas dessa relação.

Se temos mais clareza da vida como um todo, sabemos que não dá pra fazer tudo e estar sempre com todos que amamos. Precisamos escolher.

É importante que os motivos dessas escolhas e as suas consequências estejam bem mapeadas para nós – de forma que, possamos deitar a cabeça no travesseiro a noite em paz, cientes desse cenário e do pouco tempo que temos com os nossos.

Colegas e o nosso trabalho:

Tem pessoas que passam a vida inteira odiando o que fazem. Odiando a rotina, odiando o caminho da ida e o da volta, odiando os colegas, odiando o chefe…

Passamos uma parte significativa da vida no nosso trabalho e, por consequência, com as pessoas que trabalham conosco.

É tentador reclamar. Reclamar dá aquela sensação de alívio imediato – de que tá resolvido. Mas a verdade é que no dia seguinte, amando ou odiando, precisamos encarar, sentar a bunda na cadeira e fazer nossas atividades, porque é dessa forma que recebemos um salário para, minimamente, sobreviver. (Obs: se você for algum tipo de herdeiro e não precisa trabalhar para ganhar dinheiro – pode pular para o próximo tópico).

Escolhemos vender o nosso tempo por dinheiro porque precisamos dele.

É por conta do viés profissional que, muitas vezes, perdemos nossa saúde (olha a síndrome de burnout aqui) e deixamos de lado, momentos significativos com pessoas que são importantes para nós – porque não tem outra saída.

Só que não dá pra passar uma vida inteira reclamando da nossa profissão – porque reclamar não vai resolver.. mas colocar as coisas em cima da mesa e escolher diferente, vai.

Não quero propor que você negligencie o seu trabalho, mas sim que você reflita quanto tempo de vida ele vai te exigir e o que você vai precisar perder em prol disso – porque uma coisa é certa: vamos perder algo por conta do trabalho – aquela história das escolhas né.

Aqui existe um ponto de atenção: mesmo trabalhando com algo que se encaixe perfeitamente no que queremos e que não existam queixas – ele ainda vai nos roubar tempo. E talvez trabalhar com aquilo que a gente mais ama – nos roube o dobro desse tempo.

Por isso é importante fazer algo – nas pelo menos 8 horas / dia – que tenha propósito e valor para nós – nem que esse valor (aquilo que não podemos perder de forma alguma) seja só ganhar dinheiro.

A pessoa que escolhemos para passar a vida ao nosso lado:

Gosto muito de escrever sobre esse assunto. Eu acredito fortemente que amar a pessoa que escolhemos para ficar ao nosso lado – deveria ser uma das coisas mais simples de se fazer na vida. Que amor, carinho, companheirismo e respeito são sentimentos e condutas óbvias dentro de um relacionamento.

Os gráficos dessa pesquisa exemplificam exatamente porque não faz sentido os casais manterem um relacionamento apenas por causa dos filhos: um dia os filhos crescem e vão embora cuidar das suas próprias vidas e dos seus relacionamentos – enquanto os pais continuam ali – juntos pela eternidade.

Conforme os anos vão passando, convivemos cada vez mais com o nosso parceiro ou parceira – e é por isso que escrevo e insisto tanto em nos esforçarmos em conhecer o outro. Mas conhecer de uma forma genuína. Seus sonhos, suas perspectivas de mundo e de futuro – saber escutar de forma atenta e paciente o que o outro é e o que ele tem para nos oferecer.

Conhecer ao ponto de poder jogar perguntas desconfortáveis na mesa, saber mediar situações onde um não concorda com a opinião do outro e entender se dá pra lidar com isso, ou não.

Sentar frente a frente e poder falar abertamente sobre dinheiro e contas, sobre ter filhos ou não, sobre sexo e o que cada um gosta ou o que não gosta.

As sensações de paixão imediata e borboletas no estômago são baseadas em emoções. Amor de verdade, embora muitos discordem, é construído em cima de fatos.

E amar o outro – apesar de qualquer coisa – é uma escolha. É escolher equilibrar as diferenças, acolher seus defeitos e ter os nossos acolhidos. É escolher estar ao seu lado nos momentos de força ou de fragilidade.

É se escolher todos os dias.

Grande parte das decisões que tomamos ao longo da vida não precisam ser eternas. Mas existem algumas escolhas chave que são muito importantes – e que deveriam valer muito.

Vou arriscar dizer que a pessoa que escolhemos para envelhecer ao nosso lado – é uma delas.

Existem casais que escolhem passar anos evitando assuntos constrangedores e conversas difíceis, porque é mais confortável assim.

Mas já pensou que loucura, passar grande parte da nossa vida adulta e toda a velhice – nossos últimos anos de vida, mergulhados no desconforto – resultado do conforto de nossas escolhas anteriores – dormindo e acordando ao lado de pessoas que mal conhecemos – e que, na verdade, nunca fizeram muito sentido estarem conosco?

Nós mesmos:

Estamos tão acostumados em nos depararmos com escolhas que envolvem os outros ou áreas da vida que parecem (e na sua maioria são) importantíssimas, que esquecemos de escolher em prol de nós mesmos.

Parece errado né.. Deixamos perguntas como “o que eu quero?” ou “o que eu gosto?” meio que de escanteio – como se fosse uma espécie de egoísmo colocar o outro de lado e olhar um pouco para dentro de si.

A nossa vida vai passando e a partir de um determinado momento ficamos cada vez mais sozinhos. Aprendemos a aceitar e desfrutar mais da nossa própria companhia – sem aquela necessidade de sempre ter outra pessoa por perto ou sem se desesperar com a solidão.

Penso que ao longo dos anos e das experiências que vivenciamos, aprendemos que não dá pra ficar dependendo dos outros – emocional ou fisicamente.

As outras pessoas – principalmente aquelas companhias significativas – são peças importantíssimas da nossa vida – mas, no fundo, estamos aqui por nós mesmos. A única caminhada a qual temos controle, é a nossa.

Muitas das escolhas que estamos fazendo hoje – aquelas pequenas coisas que fazemos todos os dias, determinam quem seremos no futuro.. Daqui a 5 meses ou 15 anos.

Escolhas que envolvem dedicar tempo a cuidados com a nossa saúde, bem-estar físico, autoconhecimento e independência financeira – nesse cenário, parecem ótimas escolhas, visto que todas apontam para nós mesmos – que somos nossa principal companhia.

Tenho uma reflexão extremamente pessoal que eu já faço há algum tempo e hoje gostaria de dividir aqui: não pensamos sobre as escolhas que estamos fazendo porque, muitas vezes, vivemos por viver.

Investimos muito tempo em coisas totalmente aleatórias sem perceber que o tempo é um recurso extremamente escasso.

Escolhemos as nossas companhias, nossos hábitos, nossa profissão, como vamos tratar os nossos familiares e qual o valor que damos a nossa saúde – sem pensar nas consequências – e essas consequências afetam drasticamente a qualidade do tempo que nos resta.

Torço pra que consigamos escolher os poucos e bons amigos. Que a gente tenha o privilégio e a oportunidade de escolher um trabalho que esteja alinhado com o que queremos – mas se não estiver, que seja possível viver também e não só surtar.

Torço pra que na medida do possível nossas escolhas nos levem a ter um bom relacionamento com a nossa família – a de sangue ou aquela que tivemos o prazer de escolher e considerar como uma. Que o tempo que ainda passaremos juntos seja de leveza.

Torço pra que a gente escolha a melhor pessoa possível para caminhar ao nosso lado e vencer as dificuldades impostas pela vida. Que nossas expectativas estejam alinhadas e nossas vontades possam ser colocadas em cima da mesa todos os dias. Que nossos relacionamentos sejam baseados em comunicação e respeito.

Mas no final disso tudo a minha maior torcida vai para que a gente consiga se escolher. Que a gente consiga olhar para si mesmo e investir o nosso tempo em escolhas que vão mudar a nossa vida – que vão andar de mãos dadas com aquilo que queremos – e que o nosso tempo por aqui realmente tenha significado.

Você pode encontrar a pesquisa que foi referência para esse texto aqui. Para facilitar – utilizei as informações que estão nas primeiras cinco páginas. 

Com relação às imagens, eu retirei elas de várias fontes diferentes. Você pode pesquisar por “Os 6 gráficos mais importantes da vida” que vai encontrar elas presentes em diversos artigos e redes sociais. Eles são os resultados da pesquisa, mas infelizmente, não consegui descobrir quem os deixou em forma de gŕaficos. 

Se você gostou e se identificou, que tal deixar um comentário aqui em baixo pra eu saber?! Ahh.. compartilha o texto com alguém que você acha que pode gostar também! 🙂 

2 comentários

  • Ana Paula P. Teixeira

    Querida autora Helena… como é bom ver o seu crescimento ! Sua reflexão, abre um leque de pensamentos acerca da nossa vida, do que fazemos com nosso tempo!
    Espero estar entre seus amigos ou a família q vc ganhou no decorrer desse tempo….
    Parabéns pelo belo texto!

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