Minimalismo

Características – importantes – que desenvolvi após me tornar minimalista

No final de 2019 passei por um processo de minimalismo que aconteceu de uma maneira meio conturbada, mas que foi parte importante da minha vida e que me fez enxergar alguns dos meus hábitos por diferentes perspectivas. Se você é meio novo aqui, vou resumir essa história em: eu tinha muitas – muitas coisas, estava de mudança e precisava me desfazer de tudo aquilo que estivesse em desuso ou que não fizesse mais sentido porque simplesmente não dava /eu não podia carregar tudo.

Desde então, minha vida passou por diversas reviravoltas – e em todas elas o minimalismo esteve extremamente presente. Algumas vezes por me sentir mal e achar que tinha desapegado de coisas demais (inclusive esse é um ótimo assunto para se tratar na terapia), já outras, por recordar dos meus péssimos antigos hábitos com escolhas/ compras e agradecer por não agir mais dessa maneira.

Após esses quase dois anos, aprendi que o minimalismo não é somente sobre o desapego, sobre cortar pela raiz, maus vícios ou sobre as incontáveis coisas materiais que ficam para trás – aliás, ele passa longe de ser só sobre números. O minimalismo tem a ver com deixar antigos hábitos para trás e desenvolver hábitos novos. Ele fala de mudanças gritantes, mas graduais das nossas personalidades.

Já escrevi em outra oportunidade sobre os hábitos que perdi ao me tornar minimalista – quem eu era. Hoje quero contar sobre as características que ganhei e os hábitos que desenvolvi com o minimalismo – quem eu sou. Já vou te adiantar que muitas pessoas consideram eles meio caretas e sem sentido – mas a cada dia que passa acredito mais em escolher os utilizando como base.

Comprar aquilo que eu quero e se surgir um pingo de dúvida - não levar nada.

Diga-se de passagem, esse se tornou um excelente exercício de auto controle e auto conhecimento. Durante muito tempo eu mal sabia o que queria porque não me questionava sobre isso – eu só comprava. Pela promoção, porque vi a fulana usando, por ter sobrado um dinheirinho.. o critério era zero.

É interessante nos apegarmos ao que queremos – isso faz com que exista um objetivo. E ter esse objetivo/ foco faz com que a gente pare de gastar dinheiro com coisas que não são exatamente o que queremos, mas que quebram um galho – a famosa compra “pode ser”.

Existe um abismo gigantesco entre não termos dinheiro para comprar aquilo que queremos e não ter aquilo que queremos disponível e optar por levar outra coisa semelhante – ou pior, algo que não tem absolutamente nada a ver com o que queríamos originalmente. Sabe quando você tá precisando de uma blusa, mas sai da loja com uma calça? É mais ou menos isso.

A dúvida também é uma vilã nessa história das compras. Sabe quando você não tem certeza se gostou… se tem a ver com você.. se a cor ficou legal.. se o tamanho ta certo.. se você tem onde usar/ ou se realmente vai usar…

Costumo dizer que quando é um sim – esse sim é óbvio. A dúvida nada mais é do que a confirmação de um não.

Dar muito valor para as minhas possibilidades e ao meu dinheiro.

Criei uma consciência muito interessante com relação ao dinheiro nesses últimos tempos e queria compartilhar. Talvez você ache ela péssima ou assim como eu acredite que faz todo sentido:

Ninguém além de nós sabe o quão sofrido pode ser ganhar o nosso dinheiro – o quanto de vida precisamos abrir mão, em prol disso.

Obs: se você nunca fez a conta de quanto vale a sua hora ou o seu dia de trabalho, o tempo que utiliza para se deslocar até ele e nunca refletiu sobre o quanto deixa de viver com aqueles que fazem parte do seu convívio – sugiro que sente uns minutinhos com calma e pense sobre isso – para que fique extremamente claro que o dinheiro, na verdade, envolve muito mais do que somente o seu valor em reais.

Também é importante levantar o ponto de que muitas vezes quando falamos sobre nossa vida financeira, somos privilegiados. Temos uma mania terrível de nos compararmos apenas com quem está acima – mas nos esquecemos de olhar para aqueles que gostariam de ter as possibilidades que nós temos.

Eu não tô sugerindo que você não deva ter ambições ou não possa sonhar com mais. A minha sugestão aqui é que de vez em quando você pare de reclamar por falta de dinheiro e valorize o que você já tem. Talvez a falta de dinheiro que você tanto sofre seja causada por péssimos hábitos financeiros e não necessariamente pela ausência dele em si.

Penso que o grande problema em se jogar dinheiro fora – é que além de perder dinheiro, perdemos nosso tempo. Investimos um grande tempo que temos disponível durante a vida, trabalhando. Abrimos mão de passar mais momentos no convívio daqueles que amamos.. nos viramos nos 30 para marcar um médico que seja fora do horário comercial para cuidar da nossa saúde.. Perdemos fases muito importantes da vida (o crescimento dos nossos filhos, por exemplo) – porque precisamos daquele dinheiro. Precisamos trabalhar.

Quanto mais dinheiro gastamos com bobagens e coisas que não fazem sentido – mais tempo de vida perdemos tentando recuperá-lo através do nosso trabalho e mais tempo deixamos de passar com aqueles que amamos. 

É um círculo vicioso… ele nunca tem fim.

Friso novamente que eu sou extremamente a favor de aproveitarmos a nossa vida, viver as experiências que gostaríamos de viver e adquirir aquilo que queremos de ter… mas pare de ficar comprando coisas sem pensar. Coisas que você não vai usar e que às vezes nem combinam com você.

Pare de ficar gastando rios de dinheiro com o celular que lançou recentemente – principalmente se o seu salário não é compatível com isso e você precisa comprometer incontáveis parcelas do seu cartão de crédito – ou pior, precisa comprometer o básico para poder arcar com essa despesa.

Pare de comprar por impulso só porque você entrou na loja e achou chato provar algumas peças e não levar nada. Para de abrir os cupons de desconto que você recebe no e-mail e que te fazem acreditar que você precisa daquelas coisas.

Comprometemos tanto para poder levar nosso trabalho a sério – ou pelo menos falamos que o levamos a sério… Porque é que não levamos o nosso dinheiro a sério também? Porque não levamos o nosso tempo a sério?

Você se surpreenderia em saber como podemos viver bem, com menos.

Investir em produtos que tenham uma qualidade melhor.

Meu mantra de vida pós minimalismo se tornou: “qualidade vem antes de quantidade” – mantra esse que começou a se aplicar a tudo.

Faz muito mais sentido ter menos de uma qualidade boa, do que ter muito de uma qualidade péssima. Pisar no freio das compras e escolher por itens que são duráveis (tipo pra vida) do que itens que em poucos meses serão substituídos pela necessidade de alguma manutenção, por terem feito parte de uma moda super passageira, ou apenas por terem uma péssima qualidade mesmo e serem facilmente descartáveis.

Acho importantíssimo frisar aqui que não é porque um produto é de uma marca super famosa que ele é de boa qualidade. Já adquiri alguns produtos de marcas que eram só nome e zero qualidade.

Quando eu falo de produtos de qualidade, falo de peças de roupa que serão boas por anos, onde as costuras não vão se desfazer e o tecido simplesmente não vai desbotar depois da primeira lavagem. Falo de utensílios de cozinha que são produzidos com bons materiais – que se forem bem cuidados nunca serão substituídos. Falo daqueles produtos de limpeza e de cosméticos que não precisamos repor todos os meses.. por que eles rendem.

“Ah mas essas coisas são muito caras”… será?

Pra mim, visar o longo prazo não é caro.

Caro é comprar alguma coisa e deixar esquecida e jogada no fundo do armário. Caro é aquele creme de cabelo que custa só 20 reais, mas que tenho que repor todos os meses porque preciso usar um monte para que ele realmente faça efeito. Caro é aquele conjunto de pratos lindíssimos que não foi barato, mas que só usamos no Natal – porque ele é apenas para datas especiais.

Caro é desperdiçar dinheiro.

Passar para frente aquilo que eu tenho, mas que não me serve mais.

Acho que esse é um ponto que merece a nossa atenção em duas frentes diferentes.

A primeira delas é que existem pessoas que não tem nada e que dependem de doações. Roupas, sapatos, utensílios para casa (cobertores, itens de cozinha), brinquedos – tudo que seja da necessidade dessas pessoas e que esteja em bom estado – é muito bem-vindo.

Não adianta querer passar pra frente, coisas que estão em péssimo estado de conservação, quebradas, rasgadas ou que não funcionam mais. Itens que não tem mais utilidade/ funcionalidade devem ser destinados para reciclagem de maneira que seja feito um reaproveitamento de partes que ainda sejam interessantes. Não doe tralhas. Se coloque no lugar de quem vai separar essas peças e até mesmo (se for possível) de quem vai utilizá-las.

A segunda é que hoje a indústria como um todo se preocupa muito em produzir e tem seu foco sempre em fazer com que o cliente compre cada vez mais coisas novas, que possuem um alto valor agregado.

Além disso, existe um status social gigantesco em voltar para casa com sacolas e mais sacolas repletas de compras, existe a experiência da compra, existe aquela satisfação pessoal em ter ido a uma loja.. em ter usado o cartão de crédito – é legal ter a possibilidade de ir a uma loja e comprar tudo novinho..

Pra mim nunca foi um problema vestir roupas que não são novas.. aliás, eu sou aquela pessoa que não pode escutar um elogio da roupa que já vou logo contando que paguei 10 reais em um brechó.

Acho que hoje com a facilidade das redes sociais existem tantas opções de lojas de desapego e tantas formas de fazer isso, que seria tranquilamente possível  viver dos semi-novos.

Pra você ter uma noção, recentemente eu fiz uma compra de algumas peças de roupa que eu estava precisando – essa necessidade surgiu por conta de uma viagem que tenho marcada, mas o meu critério pra comprar era que elas não fossem especificamente para esse evento, mas também fáceis de usar em outros momentos – fim.

Comprei 6 itens e gastei R$ 139. Peças de segunda mão, mas que estavam em ótimo estado de conservação. Algumas delas nem usadas foram (você tem como saber isso pelo estado das etiquetas e costuras que ficam dentro da roupa).

O problema das coisas novas não se limita apenas ao seu custo – que convenhamos, é altíssimo – mas também à quantidade gigantesca de recursos naturais que sua produção exige. A indústria produz, produz e produz – ao passo que existem peças/ produtos praticamente novos que poderiam ser facilmente reutilizados.

Tecidos, por exemplo, duram anos – inclusive aqueles que a qualidade das roupas deixa a desejar. O grande porém, é que a indústria da moda acaba acatando com uma parcela bem séria dos danos ambientais – o lixo têxtil.

Eu não acredito que a solução desse problema caiba somente a nós e muito menos que ela se limite a pararmos de comprar coisas novas – mas acredito que nós, como consumidores, precisamos ser conscientes sobre a durabilidade de certos materiais. Da onde essas coisas saem e para onde elas vão.

Agora eu quero saber de você: qual o seu pensamento sobre minimalismo? Você é uma pessoa minimalista? Conhece alguém assim?! Deixa um comentário aqui em baixo pra eu saber 🙂 Adoro conhecer e conversar com as pessoas que acompanham o que eu escrevo. Aproveita pra me seguir lá no Instagram @ahelenameyer_ – os textos do blog geralmente viram reflexões menores lá no feed!

Imagem de capa autoral de  Etienne Girardet,  retirada do banco de imagens gratuito e público Unsplash. Disponível no link.

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