Sobre nós mesmas
Dedicado a todas as mulheres que me acompanham e me apoiam. A todas vocês que já se identificaram com o que eu escrevi.. às que já se viram nas situações das histórias reais aqui divididas. Esse texto é para não esquecermos nunca de quatro coisas: quem nós somos, que aquela sensação de que existe algo errado precisa ser levada a sério, que vale e muito – seguir os nossos valores, e por fim – que não somos loucas.
O que aconteceu na minha vida nos últimos cinco anos é responsável por grande parte da minha personalidade de hoje e por um movimento que eu senti muita necessidade de fazer nesses últimos meses de 2022.
Eu precisei vivenciar certos cenários e aprender algumas coisas na marra – que possuem o seu espacinho no hall da fama das minhas piores lembranças – para que pudesse estar onde estou hoje.
Se você é uma pessoa minimamente inteligente (e que acompanha o blog) já deve ter percebido que, o texto de hoje ser dedicado às mulheres, não é um feliz acaso. Ele é dedicado a elas porque 97% daquelas piores lembranças citadas ali em cima, envolvem homens.
Como explicar algumas atitudes do universo masculino?
Eu não tenho o costume de colocar todos os homens do mundo no mesmo balaio e pregar que eles são exatamente iguais – até porque eu não acredito nisso. Também não tenho a menor intenção de transformar esse momento a uma crítica a eles.
Quero falar sobre nós.
Sobre o que nós fizemos com cada pequeno detalhe, com cada acontecimento, com cada falta de responsabilidade, de limite e de bom senso. Quero falar sobre o que fizemos com o que fizeram conosco.
Nós sabemos melhor do que qualquer outra pessoa sobre os limões que tivemos que chupar e o azedo que tivemos que engolir para chegar onde chegamos.
Esse não é um texto para remoer o que passou e trazer à tona circunstâncias que nos fizeram mal, mas sim – para não nos esquecermos de certas ocasiões com tanta facilidade. O que nos machucou, nos machucou por um motivo e – honestamente, não dá pra ficar passando um pano e apagar magicamente certas mágoas de nós.
A verdade é que sempre vai ter alguém tentando nos invalidar – questionando se realmente somos boas naquilo que estamos fazendo e se fizemos por merecer a posição que estamos ocupando. Dias atrás fui questionada por um homem – que não me conhecia e que não tinha a menor intimidade comigo – se eu realmente “manjava de programação”, afinal de contas, pra trabalhar com isso, precisava mandar bem mesmo…
Sempre vai existir uma pontinha de dúvida por parte dos outros nas nossas palavras ou alguém pra falar da roupa que estamos usando – porque ou ela cobre muito, ou ela cobre pouco. Sempre vai ter gente pra falar que estamos magras demais ou gordas demais. “Ela perdeu peso, mas perdeu demais – parece estar doente” – “agora ela ganhou peso, mas engordou muito no rosto, na barriga e no braço”… olha – é realmente difícil estar no “padrão” – no que é considerado “bonito”.
Vão falar que estamos expondo nossa vida demais – ou de menos. Que não sabemos fazer bom uso do nosso dinheiro e que beber não é algo que uma moça deveria estar fazendo.
Parece que nunca vai ser suficiente. Se escolhemos trabalhar e ganhar de igual pra igual (e em alguns casos até mais do que os homens) – estamos abandonando nossos filhos e deixando outras pessoas os criarem. Se escolhemos ficar em casa com um bebê, estamos sendo preguiçosas e sugando todo o suado dinheiro dos nossos companheiros – como se o nosso dinheiro também não fosse suado e o nosso trabalho (repito, mesmo ganhando mais) não tivesse uma importância tão grande como a dos homens…
Sempre vai ter um cara pra falar que estamos exagerando e que a nossa reação por conta de certas atitudes – vindas de uma pessoa que escolheu estar em um relacionamento – não são “pra tanto”. Que estamos sendo muito ciumentas e que não tem nada demais (quando – na boa – nós sabemos que tem coisa demais)…
Aí.. se nós damos espaço/ confiança – falam que não estamos cuidando do que é nosso e que ta tudo “solto” demais. Se resolvemos fazer uma cara feia e contrariar o futebol com a galera – estamos sendo loucas…
Puta que o pariu hein.
Vão falar que é normal os homens não nos “ajudarem”. Que eles “são assim mesmo”. Aliás esse conceito de que homem ajuda deveria cair por terra… visto que atividades domésticas são consideradas coisas de um adulto funcional – e não de uma mulher. Homem não ajuda – ele faz a sua parte dentro de casa.
Vai rolar a crítica construtiva, a superproteção e o julgamento. Vai rolar aquele dedo sendo apontado para nós – nos ensinando como deveríamos fazer A ou B – sobre como deveríamos viver.
Sinceramente eu adoraria te falar que isso não vai acontecer, mas vai. Ainda falta muito – como sociedade – para que esse tipo de tratamento entre em extinção.
Para nós – mulheres, parece que tudo sempre vai ter um preço.
Apenas nós sabemos os muros que tivemos que derrubar e o que tivemos que enfrentar para realizar os nossos sonhos. Nós sabemos muito bem o que precisamos negociar perante ao que acreditamos ser correto – em prol da nossa paz de espírito.
A gente passa por cima de muita coisa.
É por isso que eu queria terminar 2022 – como uma dose de “combustível” para o seu 2023.
Não caia na cilada de acreditar que cuidar de si mesma é egoísmo.
Egoísmo – é vivermos priorizando os outros e esquecermos tanto de nós mesmas a ponto de não nos reconhecermos mais e acreditarmos que isso é normal.
Lembre-se dos seus sonhos. Das coisas que você gosta. Dos seus hobbies. Lembre-se de cuidar da sua alma. De amar quem realmente te ama por você ser quem você é – e não por quem você poderia ser.
Lembre-se de – primeiro ser o seu amor – antes de ser o amor de outra pessoa.
Não se esqueça de construir o seu legado. Nunca será errado construir algo para nós mesmas – seja de forma financeira – na carreira – ou na criação dos filhos e nos cuidados da família – se assim for da sua escolha. Faça o que está ao seu alcance – sem se esquecer de quem você é – e dos motivos que te fizeram ir por determinado caminho.
Não se culpe por não ter tido um pulso firme. Por não ter encontrado coragem. Por não ter ido embora enquanto dava tempo. Não se maltrate pelo que o outro fez com você. Você ficou por uma razão – e das nossas razões, apenas nós sabemos.
Seja honesta – com os outros, mas principalmente consigo mesma. Ao sermos honestas – encontramos os sinais que tanto vivemos pedindo e que (eu juro) – estão bem na nossa cara.
Não complique as coisas, geralmente elas são mais simples do que imaginamos.
Nós sempre saímos por cima – mais cedo ou mais tarde.
Somos ótimas no que fazemos – e o meu desejo para o período que se inicia – é que não nos esqueçamos de sermos ótimas para nós mesmas. De nos mantermos em evidência.
Escrito com carinho, admiração e muito – muito respeito, para todas as meninas e mulheres que estão ao meu redor e encontram força diária para seguir no seu propósito de vida.
Nós merecemos o mundo.
Quero aproveitar esse espaço para te agradecer por – mais um ano – ter acompanhado as minhas histórias.
Esse blog existe, porquê vocês existem.
Nos encontramos em 2023.
Imagem de Katherine Hanlon – retirada do banco de imagens público Unsplash. Disponível no link.