Relacionamentos

Para meu irmão

Era setembro de 2004 quando meu pai me mostrou o resultado de um exame e me contou que todas aquelas linhas com um conteúdo que me parecia super estranho queria dizer que minha mãe estava grávida.

Eu tinha 8 pra 9 anos nessa época – nós esperamos muito por você. Lembro da nossa primeira câmera digital que o pai comprou especialmente para tirarmos fotos suas – que havia chegado pelo correio e que abrimos na sala de espera da clínica onde a mãe fazia os ultrassons no dia em que descobrimos qual era seu sexo – eu torcia para que fosse uma menina – foi mal.

Você nasceu em uma manhã de segunda-feira, eu e a vó estávamos ansiosas para te conhecer pelo outro lado do vidro lá no hospital. Naqueles três dias de internação liguei várias vezes pro quarto de vocês pra saber como estavam – confesso que achei o máximo isso de pedir pra passarem pro ramal do quarto.

Esqueci de muitas coisas da minha infância – mas as que permaneceram na minha cabeça estão vivas de forma extremamente detalhada.

Nosso relacionamento nunca teve aquelas birras de irmão por causa de brinquedo ou de atenção – penso que, por termos idades muito diferentes, os interesses eram meio que outros e nunca nos fizeram cair em grandes conflitos – só uma vez que fechei a porta do meu quarto no seu dedinho, mas são águas passadas.

Acho que o mais engraçado entre nós os dois, é que mesmo sendo criados pelos mesmos pais, dentro da mesma casa, temos personalidades e habilidades extremamente diferentes um do outro.

Ele sempre foi extrovertido e comunicativo. Quando era mais novo, praticou diversos esportes na escola. Era e ainda é explorador – se não sabia como jogar ou fazer alguma coisa – rapidamente descobria.

Idioma nunca foi um problema. Desde pequeno ele gostava de jogar e todos os jogos eram em inglês. Morro de orgulho quando conto pras pessoas que meu irmão aprendeu a falar a nova língua sozinho e que isso abriu dezenas de portas de trabalho pra ele.

Ele sempre fala que o segredo é “viver em inglês, pensar em inglês e fazer tudo em inglês”. Bom, temos aqui um exemplo de sucesso.

O Pedro é um bom menino. Não tenho o que reclamar dele. 

Ele chegou naquela idade a qual a expectativa das pessoas na sua volta é ver o jovem de 17 anos escolhendo o que vai fazer pro resto da sua vida.

Agora vou dar uma de tia e falar que na minha época era puxado. Há 10 anos (socorro), quando eu estava no último ano do ensino médio, as escolas cobravam muito dos alunos. Se te perguntassem para qual curso você prestaria vestibular ou o que você seria da vida e você não tivesse uma resposta pronta – te julgavam da cabeça aos pés – como se seu futuro estivesse totalmente comprometido.

Se a sua escolha fosse algo fora dos padrões de cursos tradicionais, famosos e que “davam dinheiro” tipo as engenharias, medicina, odonto ou direito – você também era meio julgado porque estava escolhendo fazer uma faculdade que não serviria para nada.

As brigas entre os cursinhos pré-vestibulares eram grandes. Nesse meio extremamente conturbado ainda tinha o ego dos professores, dos pais e o dos alunos. Tudo era muito voltado a quem passava nos primeiros lugares e que escola tinha o maior número de aprovações.

As coisas não parecem ter mudado muito.

Sei como esse pode ser um momento caótico. Vestibular, nota de corte, simulados, provas – ver os amigos super decididos sobre o que farão da vida, as cobranças aparecendo de todos os lados (inclusive de si mesmo) – e outras coisas que envolvem esse assunto o qual graças a Deus após dez anos pareço estar apagando da minha memória.

Talvez por conta da pouca idade, meu irmão ainda não tenha percebido, mas nós dois somos extremamente parecidos em um ponto: amamos a liberdade. Essa liberdade não é aquela de meter o louco e fazer tudo o que queremos – é a liberdade de comandar nossas próprias vidas e seguir de acordo com o que é importante para nós.

É por isso que me sinto na obrigação de te falar – nesse caso escrever – algumas coisas que ninguém nunca me falou. Quem sabe você opte por refletir sobre algumas delas ou ache tudo uma grande perda de tempo – o poder de escolha é seu:

Nosso trabalho não é tudo – mas ele é importante e ocupa um tempo muito significativo dos nossos dias.

A conta é simples, mas como sei que na sua idade não se tem muita clareza das coisas, ela não é extremamente óbvia: você vai vender o seu tempo e em troca vai ganhar dinheiro pra sobreviver. Dependendo do que você fizer, vai ganhar mais ou menos e se administrar bem o seu salário, poderá fazer com ele coisas que vão além de somente sobreviver – mas isso é ajustável. Por mais que ganhar dinheiro seja seu principal objetivo, viver numa rotina de trabalho que detestamos – é uma merda.

Não dá pra deixar o negócio solto demais, mas também não dá pra adoecer por conta da nossa vida profissional. Encontrar esse equilíbrio é difícil.

Talvez seja impossível amar o trabalho, afinal de contas trabalho é trabalho – mas é bom não odiarmos ele.

É importante não chegar no domingo à noite e xingar mentalmente todos os seus colegas e pensar que a semana que vai começar, será um fardo. Isso tem a ver com qualidade de vida – o que torna nossos dias, apesar das obrigações – que são muitas, um pouquinho mais leves e agradáveis.

Não sei se você vai ser médico, advogado, construtor de móveis em madeira, jogador de roblox e minecraft, professor ou se fará da tradução um trabalho real oficial – mas eu espero que você faça uma escolha que te faça feliz desde o começo. Que as “comparações” e incertezas dessa fase não te suguem e que, apesar desse período, continue sendo quem você é.

Espero que você descubra o mais rápido possível – se ainda não sabe – quais são os seus valores e que possa fazer não somente a sua escolha profissional, mas sim, todas as outras pessoais, de forma mais alinhada possível a eles.

É natural uma vez ou outra abrir mão de ter exatamente aquilo que queremos na hora que queremos. Com isso aprendemos a exercitar a nossa paciência e a aproveitar cada fase do nosso caminho.

Eu espero que você possa realizar todos os seus sonhos. Não deixa eles trancados dentro de uma gaveta porque parecem impossíveis ou inatingíveis. Entende o que você precisa fazer dia após dia para tirá-los do papel, vai lá e faz – da melhor forma que você puder, com aquilo que você tem e com o que sabe agora.

Não fica esperando muito o momento ideal, os chakras se alinharem e a lua estar na fase X. O tempo passa rápido demais (você vai ver) pra gente ter receio de colocar nossos projetos em prática.

Quero que você saiba o quanto eu te amo e como me sinto sortuda de ter você na minha vida.

Feliz aniversário.

Estou torcendo por você – sempre.

Você gosta dos meus textos? Que tal compartilhar esse que acabou de ler com alguém que você sabe que também pode gostar!! 

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