Carreira

As oportunidades além dos muros da indústria – quando entendi qual caminho poderia seguir.

Em Outubro de 2018, depois de muitos meses de formada e procurando emprego na área, consegui minha primeira oportunidade na indústria alimentícia. Eu teria que ir embora da casa dos meus pais e mudar de cidade.

Sinceramente não coloquei numa balança os prós e contras dessa decisão e também não fiz uma conta realista do quanto custava morar sozinha. Se tivesse levado esses pontos à sério, não teria ido embora. Meu salário era muito baixo e só percebi isso quando vieram as cobranças e entendi as responsabilidades do meu cargo. Assumi de cara uma vaga de coordenação, sem ter nenhuma experiência profissional e zero entendimento sobre gestão de pessoas.

Considerando tudo que aprendi e dentro das minhas possibilidades, me saí muito bem. Mas somando todos os fatores descritos no último texto, com a minha falta de senioridade para coordenar uma equipe de 16 colaboradores de chão de fábrica e mediar os inúmeros problemas que apareciam (que muitas vezes não eram problemas), vi minha vida se tornar uma bomba relógio. 

Começava a trabalhar de madrugada e ia até tarde em muitos dias, não cuidava da minha alimentação, não praticava uma atividade física, dormia mal, não tinha hobbies, não podia me dar ao luxo de comprar coisas porque o dinheiro não era suficiente e para completar estava longe de todos que eu amava.

Foi quando conheci meu ex namorado. Ele é engenheiro de automação e também seguiria na indústria, mas, logo que se formou fez uma transição de carreira e foi trabalhar como desenvolvedor. Nosso encontro foi peça chave em inúmeros sentidos. A presença dele me manteve estável no trabalho e foi o que me deu foco para ser o mais resiliente possível perante as dificuldades da rotina industrial. Debatíamos sobre nossas vidas profissionais, sempre levando perspectivas diferentes ao outro. Ele foi incrível trazendo paz e equilibro para minha vida.

Como desenvolvedor ele tinha condições de trabalho incríveis. Horários flexíveis, possibilidade de home-office, um bom pacote de benefícios, uma ótima estrutura e suporte, um ambiente de trabalho descontraído,  participação de lucros, premiações, eventos totalmente custeados pela empresa. Ele trabalhava muito e recebia reconhecimento por isso. Ele se dedicou e se destacou, por isso, não tenho dúvidas que ainda vai voar longe.

Depois que concluí o ensino médio, por inúmeras vezes, me pareceu inútil ter um técnico em programação no currículo. Além de ter feito o curso sem muita vontade,  não me dediquei como deveria e sempre frisava que ia utilizá-lo como uma válvula de escape – eu queria ser engenheira. Só que quando o conheci, minha visão sobre a tecnologia mudou da água pro vinho. Existia um abismo gigantesco entre nossas realidades profissionais.

Eu não aguentava mais a altíssima cobrança na indústria e a falta de reconhecimento. Não suportava ver profissionais de chão de fábrica trabalhando muito todo santo dia e sofrendo injustiça atrás de injustiça. Por vezes precisei tomar decisões que não sintonizavam com a minha essência e os meus valores e que fizeram com que eu me desconectasse de quem eu era de verdade. Eu não queria mais passar por isso. Essa situação tinha que acabar.

Conhecer ele e a realidade que os profissionais da área viviam abriu meus olhos para uma possível transição de carreira. Não posso dizer que foi um mar de rosas e um processo extremamente harmônico – vou escrever mais abertamente sobre isso nos próximos textos, mas posso te adiantar que tive pouco incentivo, fui questionada e até criticada por amigos e pela minha família – o que me causou noites e mais noites em estado de dúvida sobre a minha decisão, além de lidar com os meus próprios medos e crenças. Foi um longo processo para me desprender de determinados conceitos.

Tenho certeza que ele fez coisas que pouquíssimas pessoas teriam feito por mim. Me apoiou quando eu decidi pedir a conta e me deu todo suporte possível quando comecei a estudar conceitos mais atualizados de programação. Por ter um alto nível de senioridade e uma grande bagagem de conhecimentos, tirou minhas dúvidas e me ajudou com os muitos bugs que apareciam no código, me puxou pra cima nos dias que as coisas não davam muito certo (aqueles que o código só da erro e o desespero toma conta da situação) e me orientou por caminhos muito coerentes.

O meu sentimento de gratidão e alívio por ele ter entrado na minha vida, trazendo amor, apoio e uma nova possibilidade, é inexplicável. Eu tinha uma bagagem de conhecimentos do curso técnico, tinha capacidade de aprender e me desenvolver em coisas novas, era uma menina inteligente e não gostava do rumo que minha vida profissional estava tomando. Ou seja, eu tinha tudo – tipo aquela história da faca e o queijo na mão. Só que, se não tivéssemos nos conhecido, eu teria ficado no mesmo lugar cedendo a pressão da opinião alheia e acreditando que não tinha mais jeito, que precisava aceitar aquela condição e que as coisas que aconteciam ali eram normais. Eu teria insistido até ser desligada no corte de despesas por conta da pandemia – como aconteceu com outros ex colegas de trabalho. 

Nossas carreiras são muito individuais. O caminho de sucesso de um, pode não ser o mesmo para o outro, mas, se você tiver vivendo alguma angústia como as que vivi na indústria: abra sua cabeça para novas oportunidades, aceite ajuda e conselhos de quem está numa área promissora, converse com amigos sobre o assunto e se possível, se de a chance de fazer algo diferente.

Eu jamais venderia uma troca de carreira como algo simples e fácil, sei a complexidade e conheço alguns dos obstáculos que podemos encontrar nesse caminho. É por isso que você ainda vai encontrar aqui no blog, textos sobre os julgamentos, as inseguranças, o que e como estudei, os meus privilégios, a minha realidade e tudo que vivi para conseguir uma vaga como desenvolvedora.

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