Relacionamentos

Para minha amiga

Eu considero o destino incrível. A vida simplesmente se encarrega de nos apresentar e manter boas pessoas próximas durante o nosso caminho. Já falei sobre essa amiga em um outro texto, mas levando em conta o momento que nós duas estamos vivendo, decidi escrever novamente sobre a nossa amizade, agora, com um nível de maturidade maior.

Nos conhecemos na escola. Eu era aluna nova de uma turma da oitava série onde todos já se conheciam porque estudavam juntos desde que tinham 5 anos. No primeiro dia de aula eu grudei nela – literalmente – hahahahaha e uns dias depois acabei ficando próxima de uma menina que cantava comigo no coral, mas que com o passar do tempo, se mostrou uma pequena grande cobrinha. Vamos deixar claro publicamente que eu não sabia o que estava fazendo.

Acabou que no ano seguinte, eu, ela e mais três alunos mudamos de colégio para cursar o ensino médio. Durante aqueles anos, como éramos vizinhas, iámos e voltávamos juntas, ou de carona com o pai de uma das duas ou de ônibus. A gente se dava muito bem, mas, como estudávamos em salas diferentes, cada uma andava com o grupo que tinha mais afinidade.

Nosso contato maior acabou sendo na faculdade. Escolhemos cursar Engenharia de Alimentos. Nós duas passamos em lista de espera, uma em primeiro e a outra em segundo lugar.

A partir desse momento, aconteceu uma sequência de eventos importantes e interessantes quando falamos sobre vida e amizade.

Vivemos praticamente ao mesmo tempo, crises familiares, oportunidades de estágio/ emprego em outros lugares, o morar sozinha, o descontentamento com a nossa área de formação, atritos nos nossos relacionamentos amorosos, inseguranças sobre que decisão tomar e o voltar para casa dos nossos pais – mesmo sendo a última coisa que queriámos para nossas vidas.

Nos livramos de uma amizade tóxica – aquela tóxica nível hard, desenvolvemos e apresentamos nosso trabalho de conclusão de curso juntas, iniciamos uma profissão do zero e por fim, começamos um processo de reconstrução para encontrar a nossa essência e nossa identidade, que se perdeu nos últimos tempos.

Ficamos praticamente 3 anos sem nos encontrarmos pessoalmente e absolutamente nada mudou. Mesmo com cada uma em uma cidade diferente (e olha que foram muitas cidades em pouco tempo) estávamos ali. Sabiámos o que acontecia na vida da outra. Mesmo com divergências de opinião, nunca discutimos e jamais subimos o tom de voz. A gente sempre se apoiou, mesmo que esse apoio viesse acompanhado com um banho de água fria e palavras que a outra não queria escutar, porque sabíamos que isso era importante.

Quando estávamos no último ano da faculdade, fomos chamadas para fazer um processo seletivo de uma indústria que ficava em uma cidade a 450km de Ponta Grossa. Gosto muito dessa história, porque ela explica muito o que a nossa amizade é. Meu pai se prontificou a me levar, e eu de imediato quis oferecer uma carona. Um pouco antes disso ela me mandou informações do valor de passagem e horário de ônibus para irmos juntas. Algumas semanas depois ela tinha sido aprovada na vaga e eu não.

Nunca me passou pela cabeça não dar uma carona ou mentir que eu não ia fazer o processo, assim como nunca acreditei que perdi uma oportunidade ou fui desclassificada por ela estar ali. Sei que a aprovação dela nesse processo seletivo, proporcionou uma bagagem muito positiva e experiências que ela precisava viver.

Decidi escrever sobre essas lembranças hoje porque nós duas (mais uma vez), dentro da individualidade de cada uma, estamos passando por dias muito difíceis, onde parece que tudo está extremamente perdido e nada mais tem sentido.  Tem horas que tudo vai muito bem e magicamente do nada, parece que vira uma chave e tudo fica nublado – que é impossível enxergar com clareza. Só que, quando isso acontece, lembrar das boas pessoas, das que fecham com a gente de verdade, dos amigos que não julgam e estão aqui para o que der e vier, torcendo e nos apoiando independente do que aconteça – é quase que um alívio pra alma. 

Parece que a cada coisinha que acontece, tenho mais certeza que temos um papel extremamente fundamental uma na vida da outra.  Que entendemos, dentro do possível, que tudo que passamos tem um propósito e que, apesar dos incontáveis sacos de limão que a vida deu pra cada uma nos últimos tempos, cabe a nós, seguir perto daqueles que amamos e confiamos e tirar o melhor disso tudo. Porque, bem lá no fundo, a gente sabe que vai conseguir entender e superar mais essa.

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