Vida

Uma geração que rema contra os conceitos tradicionais

Formar no tempo esperado, encontrar logo um trabalho estável em que nosso esforço seja verdadeiramente reconhecido, viver um único verdadeiro amor, construir uma família, ter uma casa no estilo sonho americano e viver férias paradisíacas. Fazer tudo isso na casa dos 20 e tantos anos nos foi vendido pelas gerações passadas como um atestado de sucesso.

Tenho a impressão que, durante muitos anos, o significado de felicidade, realização pessoal e qualidade de vida era medido em cima de fazer tudo isso e mais um pouco, aceitando o que viesse – sem precisar de terapia.

Esse conceito meio deturpado de sucesso e felicidade dos nossos antepassados não se encaixou muito bem à nossa geração.

Quando eu tinha uns 7 anos, pensava que aos 22 já estaria no meu canto, noiva e planejando um casamento dos sonhos com o amor da minha vida. Acreditava que já teria um trabalho super estável o qual me possibilitaria comprar meus bens e realizar todas as minhas maiores vontades. 

A verdade é que quando cheguei nessa idade eu queria outras coisas, e no fundo, já sabia que não existia um manual padrão de como viver que se encaixasse da mesma forma para todo mundo.

Vamos chegando aos 25 e percebemos que os 30 estão batendo na porta. E a cada batida dada nessa porta imaginária algumas perguntas parecem cada vez mais sem respostas – perguntas que, na época dos nossos pais, eram certezas. 

Não existiam dúvidas sobre esses assuntos, afinal de contas, os tempos eram outros.

Questionamo-nos se um dia vamos casar de branco, se será possível ter um imóvel próprio (considerando os juros e taxas altíssimas), se queremos ter filhos e se é realmente promissor fazer carreira em uma única empresa – porque aqui conflitamos a “segurança” com a experiência do novo. 

Percebemos que as férias no exterior dependem de inúmeros fatores para se concretizarem e existem incontáveis dúvidas sobre a profissão escolhida quando tínhamos 16 anos.

Será que esse caminho realmente é o certo?

Na época dos nossos pais (nem vou citar a dos nossos avós), pouco se falava sobre o sair da rota. 

Sabe a rota do: formar, casar, ter filhos, financiar uma casa, um carro e etc? O mudar de ideia e buscar pelo diferente era algo atípico.

Se fizermos um comparativo com a geração deles – se colocarmos na ponta do lápis e utilizarmos como régua os ideais do que era “certo” a poucos anos atrás, estamos atrasados com muita coisa. 

E aí aparece uma pandemia no meio do caminho, só pra atrasar um pouquinho mais.

Mas a verdade precisa ser dita: nós não aceitamos pouca coisa. Nossos conceitos de sucesso, felicidade e realização, são outros, e talvez sejam impossíveis de serem compreendidos por outras gerações.

Nós não temos medo do diferente, de fazer uma nova faculdade, de buscar emprego em outro segmento ou de pedir desligamento quantas vezes forem necessárias. 

Não nos apegamos mais ao felizes para sempre – até porque, convenhamos, pra sempre é muito tempo. Conhecemos nossos amores das formas mais improváveis, nos permitimos cortar pela raíz relacionamentos que não nos fazem bem, moramos juntos antes de casar — na verdade, nem sabemos mais se queremos casar — e fazemos planos que incluem a presença e a parceria do outro.

Mudamos para uma cidade, se não der certo vamos para outra e até agarramos as oportunidades de trabalhar fora do país. Experimentamos um estilo de vida meio nômade, desapegamos de bens e tralhas que não fazem sentido nenhum e achamos extremamente normal o anywhere office – afinal, ter flexibilidade para trabalhar de onde a gente quer e ter a oportunidade de conciliar nossa vida pessoal à profissional – sem passar muito sufoco – parecia algo impossível a uns anos atrás.

As mulheres da nossa geração estão ganhando seu espaço dia após dia e ajudando as de outras gerações a vencer obstáculos impostos pela própria sociedade. 

Estamos no começo de uma caminhada gigantesca pelos nossos direitos e, aos poucos, estamos aprendendo a não aceitar menos do que merecemos.

A vida se tornou muito em pouco tempo. Vivemos milhares de histórias e conhecemos muita gente boa por aí. Mostramos com orgulho nossas tatuagens no ambiente corporativo e nos sentimos cada vez mais confiantes para deixar o salto alto no guarda-roupa (aliás, nem me lembro a última vez que comprei um sapato de salto). 

Desenvolvemos habilidades praticando nossos hobbies, criamos profissões e dedicamos mais tempo a nós e aos que amamos. Aliás, aprendemos que tempo é um recurso extremamente valioso – não da pra sair desperdiçando ele por aí.

Cuidar da nossa saúde mental tornou- se uma obrigação. Desapegamos um pouco dos bens materiais e começamos a associar qualidade de vida a fazer o que gostamos de verdade – a estar em paz.

A felicidade genuína pode estar em valorizar as pequenas conquistas e no lidar o melhor possível com as adversidades da vida. 

Sucesso não se mede só por conta do que temos e dos títulos que adquirimos, na verdade, talvez sucesso seja mais sobre o que seremos ao longo do caminho para nos tornarmos aqueles que ainda não somos.

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