Relacionamentos

Nosso tempo

Se você acompanha o que escrevo por aqui, sabe que praticamente todos os meus textos contam sobre algum pedaço da minha vida e falam abertamente de traços da minha personalidade.

Algumas histórias são mais superficiais, outras, saem do fundo da minha alma, como a de hoje.

Sou extremamente fã do tempo. Tenho na minha cabeça que – além de uma ajudinha nossa, óbvio – ele é o único capaz de resolver grande parte das nossas angústias e dores mais profundas.

E não adianta. Mais cedo ou mais tarde nos deparamos com situações na vida que nos gritam por uma pausa. Que exigem uma reflexão. Que praticamente nos obrigam a sair de dentro dessa bolha que estamos imersos e fazem com que a gente analise, da forma mais fria possível, todos os nossos movimentos por uma outra perspectiva.

Fazer essa reflexão nua e crua sobre o que tá acontecendo, abre uma brecha para avaliarmos se realmente estamos onde e como gostaríamos de estar. Porque até podemos curtir o que vivemos hoje, mas, será que de forma realista, isso faz sentido pro futuro?

E segue spoiler: quando a nossa alma nos pede essa pausa – é porque, no fundo, ela já sabe: que não, não faz sentido.

Olhar pra dentro de si e entender nossos processos – o que estamos sentindo – talvez seja a maior dose de alívio que precisamos. É através dessa compreensão que nos libertamos, deixamos pra trás o que não é nosso e nos permitimos viver algo novo.

Em uma conversa franca com a minha psicóloga, que tive em uma das nossas muitas sessões, ela me falou sobre como o tempo é relativo e como não existe a possibilidade de nos compararmos uns com os outros – porque nossas histórias são diferentes.

As circunstâncias são incomparáveis.

Temos o – péssimo – costume de ficarmos de cara quando sabemos que algum conhecido terminou seu relacionamento super feliz e duradouro de 5 anos – e 2 meses depois apareceu assumindo pro universo uma outra pessoa.

Gostamos de ser fiscais da vida alheia, criar e esparramar teorias sobre o que aconteceu – como se coubesse a nós, qualquer tipo de julgamento. Sendo que – no fundo, os motivos e o tempo do outro, são incompreensíveis.

Vou fazer uma reflexão que você pode amar ou odiar – direito seu, claro.

Pra mim, esse tempo acontece dentro da gente. Ele não é necessariamente um tempo físico, porque, depois de refletir sobre tudo, nós sabemos.

Às vezes passamos uma vida sabendo, mas, por inúmeros motivos, não nos movemos.

Meu tempo me mostrou que eu vivia com o coração saindo pela boca. E não era por um motivo bom. Nele, vivi cercada por mágoa, dor e rejeição. Fui induzida a acreditar que o que eu era, não bastava.

Tinha a sensação de estar me afogando sem colete salva-vidas – sem nada pra me segurar. Parecia que sempre existia algo me puxando mais pro fundo e que, pouco a pouco, eu perdia a capacidade de respirar na superfície.

Meu tempo me permitiu enxergar o tamanho do buraco onde tudo que eu tinha e entregava estava sendo enterrado dia após dia.

E estar ciente que estamos dentro de uma cova, nos dá o mínimo de força e lucidez para conseguir sair dela.

Da vida posso afirmar pouquíssimas coisas, mas depois de passar por essa grande merda, te dou certeza de que aquilo que o nosso coração sente e aquela intuição que vem lá do fundo da nossa alma –  não falham jamais.

As pessoas vão dizer coisas horríveis e provavelmente duvidar do meu caráter.

Porque apontar o dedo e julgar a história que o outro vive em sua própria pele – a qual você conhece pela metade – por um mero recorte de uma rede social – é fácil.

Mas nós dois sabemos da verdade. E isso é suficiente.

Quando tudo isso acabou, o destino me apresentou um caminho novo. Foi por conta de ter vivido intensamente o meu tempo e o meu processo, que decidi que ia me permitir sentir tudo que quisesse.

Dentro de mim, sabia que podia me entregar e viver sem medo o que a vida me trouxe, porque, foi a manifestação mais leve e o sentimento mais genuíno que já senti por alguém.

Eu não precisava de tempo pra pensar ou pra ver o que ia acontecer – porque eu já tinha pensado. Dentro de mim, sabia que estava falando o sim mais óbvio da minha vida. Não havia dúvida. Foi sem cogitar um caminho diferente, muito menos hesitar – porque meu coração sabia, e como já escrevi outras vezes, ele sabe.

Como que eu poderia falar não estando frente a frente ao que eu quero pra minha vida – algo que está totalmente alinhado com os meus valores, só porque, aos olhos dos outros, o tempo não foi suficiente? Não era uma possibilidade.

Construir algo desde o começo na base da comunicação, dos nossos princípios e do que o nosso coração está nos pedindo – não é sorte. É uma escolha. E escolher viver isso é uma das formas mais honestas de honrarmos aquilo que somos e o que queremos daqui pra frente.

Você, que mal entende a sua história, seu tempo e seus porquês, não tire conclusões sobre as circunstâncias, as escolhas e a vida do outro.

Do outro, você não sabe nada.

Sobre nós – eles não sabem nada.

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