Relacionamentos

Carta aberta sobre o apoio dos amigos nos nossos projetos

Bem, na verdade, isso não é uma carta. O texto de hoje caracteriza mais um desabafo meu – que talvez também seja seu.

A pergunta que eu não me canso de fazer – a qual sei que é a pergunta de muitos outros conhecidos (e amigos, óbvio), que já tiveram seus projetos no papel e os tornaram reais é: “afinal de contas, porque os meus amigos não estão presentes (de verdade) no que estou fazendo? Porque é que eles parecem não saber – ou pior – não ligar pra algo que é tão importante pra mim?”

Há tempos reflito e quero escrever sobre o que esperamos / deveríamos esperar dos nossos amigos e o que eu, no papel de amiga, deveria estar fazendo – com o que se diz respeito a apoiar projetos de pessoas que são importantes para mim.

Acho importante refletirmos sobre isso porque só quem teve um sonho ou uma ideia no papel e o idealizou sabe o quão trabalhoso é fazer isso acontecer. Alguns dos nossos sonhos podem levar anos para, de fato, começarem a tomar forma. Então é justo, que vez ou outra, a gente pare pra pensar se estamos fazendo nosso papel como amigos – e se os nossos amigos estão fazendo o papel deles – porque ter o apoio de pessoas que consideramos muito, durante a construção do nosso projeto, muda tudo. Nós precisamos das pessoas.

Apoiar é demonstrar interesse pelo que o outro está fazendo, direcionar alguns minutos do dia para consumir o seu conteúdo e, se fizer sentido, compartilhar com alguém que possa ter interesse no assunto. Apoiar é divulgar o projeto do seu amigo – seja efusivamente ou de uma maneira mais contida. Apoiar é contar pro outro que estamos sim acompanhando o que ele está fazendo, mesmo que de longe. Apoio é incentivo – incentivo a melhorar alguns pontos ou incentivo a continuar aquilo que ele já começou.

Se engana muito quem acredita que apoiar se resume em distribuir likes ou comprar. O apoio vai além do que podemos ver.

Depois de trocar uma ideia com algumas pessoas e analisar alguns comportamentos, inclusive os meus (nada como olhar para o próprio nariz), cheguei a conclusão, que existem três (que se transformam em quatro) “principais razões” pelas quais não somos apoiados – ou não apoiamos.

Não temos ideia da real importância de determinados projetos.

Esses dias li em algum lugar que precisamos ser os principais fãs dos nossos projetos. Que a gente precisa falar sobre, criar conteúdo, ter uma certa constância, botar em prática as boas ideias que estão no papel – em resumo, fazer por onde.

Isso não deixa de ser verdade. Se não falarmos sobre o que amamos fazer ou sobre como funciona minimamente o nosso trabalho, se não explicarmos pras pessoas o que e, porque estamos fazendo aquilo ou qual é o propósito disso, primeiro: ninguém fará por nós – segundo: ninguém vai entender nada – ninguém vai perceber o quão importante aquilo é – porque nós nunca falamos.

Vivemos desligados – no modo “scroll automático”.

Esse aqui é uma loucura e praticamente todo mundo faz (penso que teríamos que ser pessoas muito conscientes e evoluídas para não fazer): passamos horas dos nossos dias olhando pro feed absorvendo suas informações, compartilhando vídeos e distribuindo likes como se não houvesse amanhã.

Simplesmente não temos interesse.

Considero que essa falta de interesse pode ser dividida em duas frentes:

– Eu não tenho interesse em consumir aquele produto ou contratar determinado serviço / eu não gosto ou não faz sentido pra mim / não me serve;

– Eu realmente não ligo pro que o outro está fazendo (em resumo, foda-se)

Agora vamos abrir o jogo e fazer algumas considerações muito sinceras sobre o assunto.

Em 95% das vezes os nossos amigos sabem e já perceberam que estamos dando ênfase demais para certas coisas. Atualmente os meios de comunicação tendem a ser muito fluidos – é muito fácil sabermos o que está acontecendo na vida do outro. Então, com toda certeza eles já viram algum post diferente, já perceberam alguma movimentação (ou sumiço) nas suas redes sociais, já leram uma mensagem em algum grupo ou até, já foram convidados de forma individual e direta a acompanhar o que estamos fazendo.

É muita ingenuidade da nossa parte, acreditar que com toda exposição que nos submetemos, nossos amigos simplesmente não saibam ou não viram o que está acontecendo. Acredite, eles sabem. Talvez eles não entendam a dimensão e importância que certos projetos têm na nossa vida – mas eles estão cientes que alguma coisa tá rolando.

Somos bombardeados diariamente com novas informações, vídeos, memes, música e trends que estão super em alta. As coisas são tão rápidas que ao mesmo passo que estamos super por dentro das novidades – já estamos super por fora. Viver nesse modo automático faz com que a gente acompanhe tudo, mas não acompanhe nada.

Geralmente é tanta coisa e tanto estímulo que nós não prestamos atenção a tudo que estamos consumindo. Observe: passamos cada vez mais tempo, imersos em conteúdos que não acrescentam em absolutamente nada e acompanhando a vida de pessoas completamente aleatórias. Aí lógico.. Tem o algoritmo que não colabora, a rotina agitada, a exaustão dos nossos trabalhos, tem o nosso ranking de prioridades, a falta de tempo… vamos ser sinceros – muitas vezes nos esquecemos de cuidar dessas conexões que são importantes.

Isso não é uma indireta e muito menos um julgamento. Isso é um alerta. Enquanto vivemos com o celular na mão apoiando nomes grandes, comprando de lugares que já deram muito certo e exaltando pessoas que nem conhecemos, deixamos de admirar e apoiar os projetos que estão sendo construídos por aquelas pessoas que dizemos serem importantes para nós.

Nós não somos obrigados a nada. Acho que o mais interessante dos relacionamentos é que temos personalidades e gostos diferentes, então vai acontecer de não gostarmos de ler textos longos e reflexivos ou de usar acessórios em prata 925. Pode ser que tour por casas que estão à venda, procedimentos estéticos ou biquínis com personalidade, também não sejam muito a nossa praia. Talvez o nosso amigo ofereça um serviço o qual não precisamos. E tá tudo bem. Repito: não somos obrigados a comprar algo que não vamos utilizar ou a gastar dinheiro em algo que não nos serve.

Dias atrás decidi reunir todos os feedbacks que já recebi desde que comecei a compartilhar meus textos na internet, principalmente depois que o foco deles se voltou à assuntos considerados um pouco mais complexos. Após reler tudo que já me falaram durante esse tempo, pude fazer algumas observações bem interessantes:

– Existem pessoas que estão ao meu lado e acompanham o que faço desde o primeiro dia. Conhecidos, amigos de amigos, namorados de amigas, um pessoal da época da escola ou da faculdade.. pessoas que leem o que escrevo. Os que participam das enquetes, interagem e respondem os posts ou encaminham os conteúdos. A maior parte dessas pessoas acompanha a evolução e o nível de amadurecimento que tanto a página como os textos estão ganhando.

– Também existem pessoas que chegaram durante o caminho e se tornaram muito fiéis ao conteúdo. Que passaram a me apoiar mesmo sem me conhecer pessoalmente. Que compartilham comigo nuances das suas vidas e onde e o quanto se identificam com algo que escrevi.

– Existem amigos que torcem genuinamente e mesmo de longe, desde o começo – me apoiam muito. E existem amigos que nunca leram um texto meu.

Dito (escrito nesse caso) isso existe uma conclusão polêmica, mas necessária.

Se uma pessoa se diz minha amiga, mas nunca abriu um texto meu por falta de tempo, nunca conseguiu seguir a minha página ou nunca separou 3 minutos da semana para ler uma reflexão minúscula em um post de instagram – publicada quase diariamente – essa pessoa simplesmente não tem interesse algum pelo que estou fazendo. Ela não quer saber.

E ela tem todo direito de achar que o que eu to fazendo tem zero sentido ou que os meus textos são ruins. Mas se ela diz ser minha amiga, essa pessoa precisa me apoiar. Nem que seja pra me dar aquele toque: “viu, esse texto ficou uma merda.. apaga isso aí”. 

Amigo que tem zero interesse e tempo pra dar uma olhadinha nos nossos projetos, não é um amigo que apoia. E um amigo que não apoia e que literalmente não se interessa pelo que estamos fazendo, infelizmente (ou felizmente) não é nosso amigo.

O contrário também se aplica a nós – se dizemos apoiar nossos amigos, mas nunca temos tempo, paciência ou interesse para ver o que eles estão fazendo, talvez a gente não considere essas pessoas tanto assim como acreditamos considerar.

Foi pesado, eu sei.

A única parte ruim em movimentarmos as nossas vidas, seja colocando projetos e sonhos em prática, mudando de carreira, evoluindo nossos relacionamentos ou buscando por uma versão melhor de nós mesmos, é perceber que amizades que pareciam sólidas são, na verdade, extremamente frágeis.

Nos momentos em que precisamos de apoio, a régua da expectativa tende e realmente precisa ser altíssima. Então é óbvio que não vai ter espaço para conexões que são fracas – sendo assim, elas facilmente se esvaem.

Se alguém importante pra você está tirando algum projeto do papel – independente do que for, apoie. Se puder, compre do seu amigo ou priorize presentear com algum produto que ele oferece. Pergunte como está o andamento do projeto. Consuma seus conteúdos – que certamente são trabalhosos de serem produzidos. Se couber a você, faça uma sugestão. Fale que você tem dado uma olhada conforme o possível e que achou alguma coisa muito massa (se você não achou legal – apenas comente que você tem acompanhado, mesmo que de longe). Esteja presente – do jeito que der – mas esteja presente e tenha interesse pelo que os seus estão fazendo.

Apoie os projetos dos seus amigos, mesmo que eles não façam sentido pra você.

Apoio é aquela presença que não precisamos ver.

Um comentário

  • Rafa

    Acho que esse apoio ou interesse se assemelha um pouco com tudo que acontece na nossa vida. Faz pensar se realmente algumas prioridades que elegemos são realmente necessárias, ter a empatia em estar do outro lado e sentir na pele o que o outro vive, passa e muitas vezes se submete por nós ou por alguma situação pontual.

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