Vida

Nunca estaremos completamente prontos

Olha.. eu vou começar esse texto te falando o seguinte: sempre vai faltar algo. Às vezes são coisas da nossa personalidade, já outras, são coisas que podemos aprender – que envolvem dedicação e conhecimento.

Gosto de deixar isso escancarado porque ninguém tem o costume de nos avisar sobre – pelo menos não abertamente.

É impossível saber tudo e estar 100% pronto. Sempre vai existir alguma pontinha solta.

Se eu fosse fazer um balanço da minha vida até aqui e das inúmeras oportunidades que tive (não falando apenas de carreira – a gente tem que parar de achar que nossa vida se resume só numa carreira) – posso dizer que, no geral, elas foram muito boas. Mas seria uma puta hipocrisia da minha parte, afirmar que nunca perdi ótimas oportunidades.

Não gosto de ficar me lamentando ou de construir ideias mirabolantes na minha cabeça sobre o que poderia ter acontecido. Só sabemos sobre aquilo que de fato aconteceu. Mas é interessante que, vez ou outra, a gente pare para refletir sobre os motivos pelos quais estamos deixando oportunidades que estão bem embaixo do nosso nariz, passarem.

E não se engane, o objetivo aqui não é remoer o que passou, mas sim, entender o porquê coisas que gostaríamos de ter ou fazer, simplesmente não acontecem. Entender o porquê é que não conseguimos reagir diante de oportunidades que são legais e que muitas vezes estão de acordo com os nossos planos. Mas acima disso, refletir porque é que pessoas que parecem não merecer tanto e nem estarem tão preparadas, parecem roubar oportunidades que não deveriam ser delas.

Observação: aqui eu não vou entrar no mérito de desigualdade social, racial ou de gênero. É óbvio que quando falamos sobre oportunidades – principalmente a quantidade e qualidade de oportunidades – as desigualdades, infelizmente, ainda são muito presentes. O ponto principal desse texto hoje, é discutir sobre as oportunidades que estão praticamente nas nossas mãos – mas que deixamos passar por medo de não estarmos prontos, por medo de não sabermos o suficiente ou por acreditarmos que aquilo ali é demais para nós. Fim da observação.

É justo que exista aquele pé atrás. Que a gente se questione se estamos preparados para assumir determinados desafios e para dar grandes e significativos passos. É de bom tom que exista um planejamento. Que alguns movimentos sejam calculados e os prós e contras sejam visitados e revisitados. Apesar de sensatez e organização serem vistos pelos olhos de algumas pessoas como condutas “caretas” ou “chatas pra caramba” – devemos dar o devido valor e importância para as mesmas.

Em resumo: não dá pra sair enfiando a carroça na frente dos bois. Ser imediatista mais atrapalha nossa vida, do que ajuda.

Acontece que de vez em quando a gente tem tudo isso mapeado e mesmo assim insistimos em nos auto sabotar.

A auto sabotagem faz com que nos transformemos no nosso pior inimigo. Às vezes temos tudo na nossa mão. As ferramentas disponíveis, o conhecimento que precisamos (ou os meios para adquiri-lo), tempo, dinheiro, condições físicas e mentais, os chakras alinhados, a tiragem do tarot dando os direcionamentos que queremos escutar e mostrando que sim – jovem – esse caminho é coerente… e mesmo assim – procrastinamos aquelas coisas que mais queremos.

Começamos a imaginar na nossa cabeça, cenários que levariam meses ou anos para realmente acontecerem. Às vezes a paranoia é tão grande e imaginamos coisas tão doidas que elas nem acontecem – não existe brecha para elas acontecerem. Somos extremamente responsáveis por colocar barreiras que não existem no nosso caminho.

É legal ser cauteloso, mas também é legal acreditarmos um pouquinho mais na nossa capacidade de fazer as coisas. É justo com aquilo que queremos.

Enquanto estamos por aí nos arrastando, calculando milimetricamente cada passo que vamos dar e esperando todas as condições estarem exatamente perfeitas – aquelas pessoas que “parecem não merecer tanto” – vão lá e fazem. Preparadas ou não – certo ou errado, essas pessoas tentam e muitas vezes acabam conseguindo coisas que elas nem sabiam que queriam. Talvez a auto cobrança seja menor ou quem sabe elas lidem com tudo com um pouquinho mais de leveza…

Isso parece uma loucura pra você?

Loucura é não nos movimentarmos por conta de uma espécie de paralisia do medo em não estarmos prontos. Loucura é os anos passarem e ficarmos exatamente no mesmo lugar.

Quantas desculpas você já não arrumou pra tentar mascarar um medo? Eu arrumei várias.

Existem dois episódios na minha vida profissional que se encaixam muito bem como exemplos de que eu não estava totalmente pronta.

O primeiro foi meu estágio – nota importante: no estágio ninguém nunca sabe nada, mas pensa que sabe tudo. Ele existe pra gente aprender – errando. Nele temos a oportunidade de lidar com pessoas das mais diferentes hierarquias e começamos a entender como funciona minimamente o mundo corporativo. Também é no estágio que aprendemos o poder das frases: “fulano que nos lê em cópia” e “conforme no e-mail enviado e lido no dia x” – afinal de contas, contra provas não há argumentos.

Entramos no estágio para aprender. É uma pena que não nos ensinem antecipadamente sobre seu objetivo.

O segundo foi o processo seletivo para entrar na empresa que trabalho atualmente. Esse aqui é relativamente interessante – eu estava num período de transição de carreira, relembrando conceitos super antigos da época do curso técnico e os estudando por conta própria através de materiais que eu encontrava gratuitamente pela internet.

Poucas pessoas sabem, mas quando você se aplica a vagas que envolvem programação e a sua senioridade é muito baixa, logo após uma primeira entrevista com o RH é solicitado a resolução de um case que geralmente é relacionado a desenvolver um programinha. Esse case não costuma ser muito complexo e, grande parte do que precisa ser desenvolvido, é facilmente encontrado no google.

Pra completar, eu teria que apresentar o código desenvolvido numa nova entrevista, que seria com o gestor e alguns desenvolvedores da equipe.

Eu sabia que me encaixava na grande maioria dos pré-requisitos da vaga, sabia que estava estudando e me dedicando ao máximo para poder trabalhar com a minha formação técnica – mas eu não sabia se daria certo. A área estava (está) tão em alta que, no fundo, eu tinha certeza que poderiam ter pessoas concorrendo às vagas com um leque de conhecimentos maiores, que por conta disso estariam melhor preparadas ou que simplesmente se destacariam no case e nas entrevistas.

Meu código não ficou completo. Algumas coisas que eu nunca tinha estudado e que eu não sabia fazer estavam sendo pedidas. Confesso que, por um momento, cogitei simplesmente não entregar e desistir do processo seletivo.

Não tinha certeza se seria escolhida, se o que eu tinha entregado seria suficiente, se gostaram de mim e nem se eu tinha explicado direito o que desenvolvi. Mas fiz o que estava ao meu alcance naquele momento para que desse certo.

Sabia que conforme o tempo fosse passando poderiam surgir outras oportunidades, mas também sabia que aquela ali além de muito boa – seria única. Eu não queria viver com aquele arrependimento de ter desistido no meio do caminho. Com a sensação de ter sido paralisada pelo medo e de achar que aquilo era demais pra mim.

Fui aprovada na vaga e agradeço todos os dias por ter acreditado um pouquinho mais no que queria fazer e a transição de carreira que estava me propondo. Mantive os pés no chão, ciente de que aquilo ali poderia dar em nada, mas focada – na medida certa, em fazer a minha parte.

Muitas vezes teremos a possibilidade de aprender conforme a música toca – minha dica aqui é: não hesite diante de oportunidades assim. Se não existe uma expectativa de que você saiba tudo previamente – você não precisa saber tudo previamente.

Além disso, não conquistamos as coisas sem tentar. Às vezes a experiência e o esforço por ter tentado valem muito mais do que o ter conseguido em si (ficou motivacional demais essa parte, eu sei – infelizmente não pude evitar). O que quero dizer aqui é que algumas tentativas vão nos lapidando para aquilo que vem depois.

Não dá pra deixar de lado aquelas coisas que mais queremos por acreditarmos que não estamos prontos.

Não mais.

Agora eu quero saber: você já deixou alguma oportunidade passar por conta do medo de não estar pronto? Comenta aqui em baixo pra eu saber 🙂 Adoro conhecer e conversar com as pessoas que acompanham o que eu escrevo. Aproveita pra me seguir lá no Instagram @ahelenameyer_ – os textos do blog viram reflexões menores lá no feed!

Imagem de capa autoral de  Manasvita S,  retirada do banco de imagens gratuito e público Unsplash. Disponível no link.

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