A verdade sobre Dez/23
Qual foi a maior mentira que você já teve coragem de contar pra alguém que você diz amar?
Eu começo:
Uma vez, falei pra um ex namorado que “ele não era o problema, eu só achava que não tínhamos mais compatibilidade e não fazia mais sentido ficarmos juntos”. A verdade era que sim, ele era o problema. De fato, nós não tínhamos mais compatibilidade (aliás acho que nunca tivemos), mas era meio complicado chegar pra ele e falar “Viu.. é que na verdade você me faz muito mal. Você critica as minhas roupas, meus amigos, minha família, meu trabalho – inclusive sugeriu que eu devia procurar uma psicóloga pra falar sobre o fato de eu “não estar prosperando profissionalmente” e por último, mas não menos importante: fica falando por aí que eu estou gorda (por favor, se olhe no espelho).
Às vezes a gente mente mesmo. É mais fácil falar que “eu só não quero mais” do que explicar a extensa lista de motivos pelos quais eu não quero mais, transformar isso em uma choradeira e ter que encarar a expressão de incredulidade e julgamento da outra pessoa. Porque no fundo, encarar a verdade, é uma trolha.
De todas as mentiras que já me contaram, com toda certeza essa foi a mais cruel. Mas hoje, depois de tudo isso, acho que pra ele deve ter sido difícil encarar a verdade. No geral, é mais fácil contar mentiras totalmente sem nexo e tentar enganar as pessoas. Coisas como “eu estava preocupado demais que você pudesse sofrer quando soubesse a verdade”, “fiz porque achei que você nunca fosse descobrir”, “eu não pensei nas consequências” e outras bobagens diversas da mesma categoria, caem muito bem quando as pessoas tem medo de admitir o que fizeram e encarar, com a cabeça erguida as consequências dos seus atos.
Assistir uma traição como expectador da vida alheia nos causa uma sensação. Sentimos empatia pelo outro, criamos um senso de justiça, costumamos escolher um lado (mesmo não sendo convidados pra isso) e fazemos comentários com conhecidos em comum que transitam entre a especulação e a fofoca: “Como ele pode fazer isso com ela?”, “não acredito que ela teve coragem de jogar tudo fora”, “nossa, mas eles pareciam estar tão bem”, “será que foi com uma pessoa só?”, “como será que ela descobriu?”.
Pra ser bem sincera, de todas as vezes que eu assisti uma traição no papel da espectadora, o sentimento de pena era muito grande. Ninguém merece descobrir que a pessoa que está escolhendo para passar a vida ao seu lado, não presta.
Dezembro de 2023 foi, com toda certeza, o mês mais bizarro que eu já vivi até hoje. Era minha primeira vez sendo host (amo essa palavra) das festas de final de ano. Naturalmente eu queria que tudo saísse perfeito – ou pelo menos, saísse como o planejado. Escolhi com muito carinho e antecedência a decoração da sala e dos demais cômodos, a louça das refeições principais e o cardápio que foi servido em cada um daqueles dias.
Organizei passeios para proporcionar experiências diferentes, preparei o quarto de hóspedes, providenciei a limpeza e organização dos ambientes e fiz questão de deixar claro o quão bem vindas aquelas pessoas eram na minha casa. Afinal de contas, pra mim, nossa casa é um lugar sagrado. Só pessoas com boas energias e boa índole deveriam acessar um espaço tão íntimo e tão pessoal.
Sem saber, eu estava me preparando para o maior circo de toda a minha vida. E – claro, eu seria a palhaça.
A partir do momento que a traição aconteceu embaixo do meu nariz, a história ganhou um outro significado. Eu saí do papel de espectadora, deixei os bastidores onde podia fazer fofoca da vida alheia, pra ser a fofoca na vida alheia. “Como ela não percebeu?”, “Como ele pôde fazer isso?”, “Mas claro que isso ia acontecer uma hora, só ela não enxergava”…
Os boatos que chegaram aos meus ouvidos me machucaram muito. Soube que a vergonha era tanta, que a verdade nunca saiu da boca dele. Tudo bem. Eu mesma me encarreguei de tirar aquela máscara nojenta de respeito e bons costumes que ele usava por aí. Mesmo sem ter forças pra sair da cama, eu não suportava a ideia de que a história fosse contada de um jeito diferente. Por isso, me certifiquei de juntar todas as provas, de não deixar passar nenhum detalhe e contei pra todos aqueles que precisavam saber, toda a verdade.
Confessei pra família e pros amigos que fui fraca ao perdoar a primeira traição. Também contei que descobri a segunda, enquanto recebia ele e sua imaculada mãe, como se fossem reis, dentro da minha própria casa, no dia de Natal, ao encontrar um comprovante de motel barato dentro do seu carro.
Contei que, mesmo com toda a verdade diante dele, ele continuou mentindo. Contei que se envolveu com meninas muitos anos mais novas do que ele. Contei que, como ele não confessava, eu mesma tive que ir atrás de provas concretas, e que pude esfregar com prazer na sua cara, que se tinha algum nome que seria manchado, esse nome não seria o meu – porque no final das contas, eu estava certa.. o tempo todo.
Contei das vezes em que recebi mensagens de outras mulheres me alertando para abrir os olhos. Contei das vezes em que confrontei as curtidas dele em fotos de meninas aleatórias de biquíni no Instagram, e de todas as vezes que ele me disse que aquilo tinha sido um acidente (foram muitos acidentes). Contei do dia em que vi, com meus próprios olhos, as mensagens dele convidando alguém para sair enquanto namorava comigo – e que a sua justificativa foi: “eu convidei, mas não saí”.
Eu contei sobre todos os sinais que estiveram bem na minha cara por todo aquele tempo e sobre os tantos e todos os absurdos que eu escutei.
Por fim eu contei, com detalhes, sobre a lista de atrocidades que saíram da boca da única pessoa que teve coragem de passar pano pro que ele fez.: “Você tem que entender que pra mulher é isso mesmo”, “Olha, eu concordo que você tem sim que se valorizar.. mas eu vou te falar que pro nosso lado a coisa tá complicada”, “Eu peço todos os dias pra Deus abençoar essa união”..
Gosto de dizer que, às vezes, as pessoas pedem a Deus, as coisas erradas.
Primeiro eu morri de tristeza, depois de ódio, e na sequência, morri de vergonha. Eu parei de respirar tantas vezes por tantos motivos que jamais vou conseguir mapear todos eles.
Depois de um tempo, escutei os boatos de que eu simplesmente tinha enlouquecido.
Enlouqueci, por querer acabar com a reputação de um rapaz tão pró família e trabalho.
Enlouqueci, porque quis colocar fogo nos presentes, nas fotos, nas roupas, nas memórias e no futuro incrível que teríamos se não fosse por mim estar estragando tudo.
Enlouqueci, por falar com toda educação do mundo para uma pobre mãe, que devia ser terrível mesmo descobrir que seu filho não vale nada.
Enlouqueci por querer abrir mão de um relacionamento que estava enfrentando pequenos desafios, afinal de contas, todos os relacionamentos passam por momentos de provas, e ao que tudo indicava, eu estava me antecipando ao colocar um fim em uma história tão linda.
Enlouqueci, porque em algum momento do meu surto, mandei todo mundo se foder.
Depois, eu morri de nojo por estar vivendo tudo aquilo. Senti nojo por ter deixado ele conviver com a minha família e com os meus amigos. Nojo por ter deixado ele me tocar. Nojo por ter me doado tanto pra alguém que achou que podia me enganar de uma forma tão cruel.
Morri ao sentir as pontadas constantes dentro do meu coração, como se alguém estivesse me esfaqueando aos poucos, porque no fundo, eu sabia que tinha dividido muito dos meus melhores anos com a pessoa errada. Meus sonhos, medos, metas pessoais e profissionais, vulnerabilidades e maiores segredos foram expostos para alguém com um caráter tão sujo.
De fato, encarar a verdade é uma trolha.
Essa é uma pergunta retórica e sua resposta imaginária pode ser a mais sincera possível: se tudo isso tivesse acontecido com você, você não teria enlouquecido?
Falando sobre verdades, qual delas é mais difícil de engolir?: A de que tudo aquilo que escutamos não passou de uma mentira? Ou a de que tudo aquilo que saiu da nossa boca era mentira?
Ambas carregam consequências que são difíceis de conviver. Elas estão ali, no nosso subconsciente nos lembrando todos os dias que existem. A grande questão é: qual consequência pode mudar tudo que somos pra sempre? Quais capítulos das nossas histórias são capazes de mudar o rumo do jogo?
Estava com saudades dos meus textos? Acredite, eu também estava.
Meu afastamento do meu próprio blog, está intimamente ligado com os traumas e consequências que esse evento causou. Logo eu, que desde o começo da página batia na tecla de que as nossas histórias tendem a se repetir e que podemos nos identificar muito uns com os outros, não tinha forças e nem condições pra estruturar textos completos e dividir com o mundo o que tinha acontecido.
Uma paralisia criativa me assombrou por meses. Eu não queria escrever sobre uma verdade tão bizarra. No entanto, no final de Novembro, como um sinal divino, algo aconteceu. Era como se as ideias começassem a cair no meu colo novamente. O meu período de estagnação criativa, tinha finalmente acabado.
Comecei a tirar aquelas frases soltas do meu bloco de notas, do meu caderninho do lado da cama, e transformá-las em parágrafos reais e estruturados. O blog que foi deixado por tanto tempo de lado, começava a ganhar vida novamente.
As ideias reapareceram na minha mente como se fossem a coisa mais fácil do mundo a se fazer, porque eu já não sentia mais vergonha que soubessem o que tinha acontecido comigo. O sentimento era, novamente, de que eu podia e iria ajudar outras pessoas, simplesmente porque elas saberiam a minha história e a partir disso, poderíamos voltar a ter trocas incríveis, como foi desde o dia 0 do blog.
No final do último (e primeiro) texto de 2024, quero propor uma reflexão sobre esse momento que estamos vivendo: as festividades de fim de ano, tudo que isso representa e como esses eventos afetam as nossas vidas.
No ano passado, minha maior preocupação era deixar a casa impecável. Queria ter 500% de certeza que as pessoas estavam se sentindo bem recebidas e bem vindas. Esse ano, minha maior preocupação foi estar rodeada de pessoas de bom caráter e bom coração.
Esse ano, minha casa não estava extremamente limpa para o Natal e eu não fiz entradas, pratos principais e sobremesas elaboradas. Não foquei em comprar presentes perfeitos, mas sim, presentes úteis que estivessem relacionados com as necessidades e desejos dos meus convidados. Não precisei deixar claro o quanto aquelas pessoas eram bem vindas no meu espaço e o quanto queria que elas estivessem ali comigo, porque além delas já saberem, dentro do coração delas – isso era 100% verdade dentro do meu coração.
O meu maior desejo para 2025, é que possamos conduzir a nossa vida pessoal e profissional com toda honestidade e integridade que dizemos ter. Que seja um ano de muito sucesso e de muita prosperidade pra todos nós.
Que a gente saiba identificar as boas oportunidades e agarre elas com as duas mãos e, mesmo não estando totalmente prontos, que possamos encarar de frente as tantas missões loucas que caem nos nossos colos, agindo com a competência e responsabilidade exigidas para esses momentos.
Que todo mundo que sofreu alguma decepção amorosa, possa se permitir amar de novo. Amar uma pessoa que nos ama do jeito certo, é bom demais.
Que a gente pare de perder tempo com bobagens e pessoas erradas.. porque apesar de eu ser uma grande fã do conceito de “temos todo tempo do mundo”, viver é urgente, e a vida tá passando, cada vez mais depressa.
Que em 2025 nós estejamos cercados de boas pessoas. Daqueles que têm os objetivos verdadeiramente alinhados com os nossos. Que essas pessoas possam nos impulsionar a refletir cada vez mais sobre as escolhas que estamos fazendo todos os dias, e o impacto que elas causam nas nossas vidas.
Que por fim, a gente saiba que apesar de todos os medos, tropeços, vergonhas, rancores, mágoas, vontades de deitar com a cabeça no travesseiro e chorar até dormir sem hora pra acabar, as nossas vidas são incríveis e esses pontos de inflexão, fazem parte de quem estamos nos tornando.
As consequências para aqueles que mantém o seu lado da rua limpo, mudam o jogo todo.
Com carinho,
Helena.
3 comentários
Giovana Okubo
Amei o texto e me identifico, inclusive, com a infelicidade amorosa que tu viveu. Respondendo a questão “se tudo isso tivesse acontecido com você, você não teria enlouquecido?” sim, a gente perde a noção. Hoje, depois de um bom tempo sem contato com o ser, voltei a me sentir eu mesma. Enquanto nós estamos ali dentro de uma manipulação ‘afetiva’ a gente perde completamente a noção da realidade como ela é, e a outra pessoa dá um jeito de se colocar no meio de tudo. Eu me vi cega por pelo menos 6 meses depois do término, e só depois eu comecei a de fato a me recuperar. É incrível como uma única pessoa pode atrasar toda sua vida, mas acredito que nada seja por acaso – tudo nos beneficia de alguma forma (pelo menos pra mim, mudou completamente minha perspectiva sobre a vida, e posso afirmar que hoje eu vivo muito mais leve e muito mais conectada comigo e com a minha intuição). Que 2025 seja um ano de muitas conquistas e muitas realizações pra nós! Espero te ver muito mais por aqui, você é incrível ❤️
Ana Paula Teixeira
Querida escritora…
Como me orgulho da mulher que se tornou… estive com vc nesse momento “infeliz”, mas que felizmente te trouxe um crescimento/evolução incrível!
Amo ver você hoje liberta dessas lutas interiores q te consumiam… Hoje feliz, realizada e realmente amada!
Ótimo 2025 pra vc!
Ana Paula Teixeira
Querida escritora…
Como me orgulho da mulher que se tornou… estive com vc nesse momento “infeliz”, mas que felizmente te trouxe um crescimento/evolução incrível!
Amo ver você hoje liberta dessas lutas interiores q te consumiam… Hoje feliz, realizada e realmente amada!
Ótimo 2025 pra vc!